25 de nov. de 2008

Fazendo amigos e influenciando pessoas

Fazem seis anos já. Corria o longínquo 2002. Garibaldi mal havia começado a receber asfalto no centro, Obama era apenas mais um negro dos EUA e eu ainda acreditava que jamais o Inter seria campeão mundial. Pois bem. Foi no distante 2002, mas eu me lembro como se fosse hoje.
Eu era apenas um estudante do ensino médio a alguns meses da formatura, e estava prestes a começar apenas mais uma aula. Mas era véspera de eleição presidencial. E, na aula de literatura, a professora passou TODO o período tentando nos convencer a votar em José Serra (PSDB) e a humilhar Lula (PT). Lembrando, para quem não sabe, que as aulas tinham (e ainda tem) a duração de duas horas, e não de meros 50 minutos. Pois foram duas horas de argumentos do tipo: “Como votar em alguém que nunca trabalhou?”, “Como votar em um cara semi-analfabeto”, “Como votar em um cara que tem nove dedos”, entre outras. Percebi muitos de meus colegas transformados por aquele discurso, os quais saíram daquela aula nutrindo um ódio mortal pelo PT. Eu não caí na conversa, mas me mantive na minha, afinal não passava de mais um alienado estudante secundarista. Fosse hoje, e não sei o que faria com aquela professora. Não sei.
Digo isso para mostrar nossa situação como professor. Vida dura, essa. Ao mesmo tempo em que temos que fazer com que os alunos pensem com suas próprias cabeças, também é dever deixá-los tomar a decisão que acharem melhor. Eu poderia muito bem, nestes meus dois meses de estágio no ensino médio, ter discursado para que meus alunos votassem no PT nas últimas eleições municipais. Mas não poderia fazer isso. Seria injusto com eles, seria injusto com todos. É dever do professor apenas apresentar os meios (e os fins) para que eles pensem com suas próprias cabeças, e não influenciá-los diretamente. Meus alunos perceberam o quanto não gosto da Rede Globo, mas o que passei a eles foi a oportunidade de saber raciocinar e analisar as informações transmitidas pela tv do Marinho. E foi assim que terminei meu estágio, com a esperança de ter desatado alguns nós no cérebro daquela gurizada para liberar as correntes de pensamento.
Quanto àquela professora, bem, ela ainda continua dando aulas por aí. Espero não encontrá-la em alguma sala dos professores num futuro próximo. Mas, se isso acontecer, terei o maior prazer em vestir vermelho.

20 de nov. de 2008

Peso na Consciência

Eles foram maltratados, humilhados e achincalhados como animais por cerca de quatro séculos.
Ganharam a liberdade, mas não a cidadania.
Estavam livres, mas não tinham para onde ir.
Hoje, são sinônimos de favela, pobreza, pedintes, criminosos, assaltantes e bandidos.
No Rio Grande do Sul, sofreram com a “limpeza social” promovida no século XIX durante a “Revolução” Farroupilha.
No Brasil, sempre que um deles é preso, tem sua imagem explorada pela mídia.
Aliás, sobre a mídia, esta nunca os colocou em papel de destaque nas novelas, sempre como motorista ou empregada. Hoje, um deles tem papel de político; mas um político corrupto.
Hoje, 20 de novembro, são lembrados. Amanhã, 21, já estarão esquecidos.
Não é preciso escrever muito. Uma reflexão interna (e externa) surge como mais saudável no momento.

(...)

Feliz Dia da Consciência Negra.

15 de nov. de 2008

Programa de domingo: ir comprar uma moto na UCS

A Universidade de Caxias do Sul inaugurou, dentro de seu campus, uma loja da Colombo e uma revenda de motos. Pronto. Só esta frase já seria suficiente para deixar subentendido o que eu quero expressar neste post. Mas vamos tentar nos aprofundar um pouco mais, afinal, amanhã é feriado (obrigado Deodoro!) e não tenho a obrigatoriedade de ouvir aquele toque bizarro do despertador.
Escrevo para questionar qual o real sentido da universidade nos dias de hoje. Não faz muito tempo, a “academia”, como os saudosistas costumam chama-la, era um local para o desenvolvimento de idéias, de ações, de discussões em torno de um mundo melhor. Não sei se isso parece saudosismo de alguém que gostaria de ter vivido há algumas décadas atrás, mas não encontro isso na universidade hoje.
Com exceção de alguns pontos isolados (o bloco da História é um deles, modéstia à parte), o que observamos na Universidade de Caxias do Sul (cito esta por ser aquela da qual participo) é um desfile de patricinhas e mauricinhos com suas bolsas chiquééérimas, seus Nike bordados a ouro e suas camisetas da Cavalera. Ok, estou sendo um pouco radical sim. Boa parte dos que estudam lá à noite são pessoas que trabalham durante o dia e ocupam o “terceiro turno” para estudar, ma o questionamento que faço é a alienação que impera sobre essas pessoas. Tomemos como exemplo o protesto realizado há algumas semanas atrás contra o aumento das mensalidades. A grande maioria das pessoas passava pela concentração, fingia que não era com elas e seguia a passos apertados ou com sorrisos debochados, do tipo “ai, jamais vou pagar esse mico”. No entanto, são as primeiras a reclamar do aumento. A participação foi mínima, tomando por base o número de alunos. Onde está o espíriito de protesto, de inconformidade, de união dos universitários numa hora dessas?
Com todo respeito à turma das Exatas, mas é assustador ver o nível de alienação das maioria dos alunos. A universidade deixou de ser um centro pensante para não ser mais do que uma escola técnica, reprodutora de idéias da grande mídia para a grande massa.
Ah, claro que existem as exceções, e os leitores deste blog fazem parte delas. Mas vocês, meus amigos, como acabei de dizer, são exceções. Minha preocupação é com a grande maioria dos universitários, que acham perfeitamente normal a Colombo inaugurar uma loja bem no meio do centro de convivência e uma revenda de motos perto da biblioteca. Junte-se a isso a monopolização do sistema bancário (Santander exigiu exclusividade), uma biblioteca com catracas (passe o cartão, por favor), a extinção da venda de cervejas (esta sim a tragédia do século), e temos o verdadeiro retrato do que é uma universidade nos dias de hoje: consumista, capitalista, ditatorial e alienante.
Preocupante? É, talvez. Mais preocupante ainda é pensar que a “nova geração” – alô idade, um abraço – que vem entrando nas universidades chega mais alienada ainda, e tem como maior preocupação pedir dinheiro para o pai pra poder comprar aquela máquina digital que viram na vitrine da Colombo...

5 de nov. de 2008

Apenas mais um texto sobre Barack Obama

Apesar de não ser muito adepto do positivismo, sou obrigado a admitir que certos dias ficam para a história. 04 de novembro de 2008 é um deles. A data de ontem ficará marcada como a que tornou pela primeira vez na história um negro como a pessoa mais poderosa do mundo.
Não sei se Luther Kink e Malconm X imaginavam que um negro iria atingir a presidência dos Estados Unidos, ao menos não tão “cedo” assim, apenas algumas décadas depois deles terem sido assassinados. Aliás, sobre isto, sabemos que os americanos são especialistas em assassinatos de presidentes (não apenas de presidentes), e há quem aposte num desfecho trágico para o quase conto de fadas chamado Barack Obama.
E eu, que não sou o maior fã do idioma inglês, acabei aprendendo mais uma palavra, de tanto ver e ler sobre o assunto: Change. Mudança foi a palavra que guiou a campanha do jovem Obama, e mudança é o que guiou os americanos às urnas nesta terça-feira.

Não sei não...
Até que ponto a eleição de ontem pode realmente significar mudança? Pois sabemos que os EUA continuarão capitalistas, continuarão imperialistas, continuarão explorando as riquezas dos outros países e impondo barreiras comercias. Ou não? Será que Obama realmente vai provocar uma reviravolta no planeta? Acho difícil uma grande mudança, apesar de os EUA estarem claramente num declínio, normal quando os impérios atingem seu auge. A crise econômica também poderá guiar a política estadunidense, afinal, o presidente deverá sofrer pressões incríveis dos bilionários americanos.

Ohhhhhhhh

Enfim, vamos ficar na expectativa e ver o que acontece. Ainda quero ter mais fatos para poder construir uma real imagem de mudança em cima do “pop” Obama. No entanto, já fico muito feliz de saber que não verei mais aquela inominável pessoa chamada George War Bush com a imagem da Casa Branca ao fundo. Melhor que ele se especialize em contar histórias de ovelhinhas para crianças do primário.