27 de jan. de 2009

Paralelas que se cruzam em Belém do Pará

Começou de forma oficial hoje, em Belém do Pará, a nona edição do Fórum Social Mundial. Como todos já sabem (ou deveriam saber), o Fórum surgiu em 2001, sob o lema “Um outro mundo é possível”, com a idéia de fazer um contraponto ao Fórum Econômico Mundial, realizado todos os anos na chiquéééérima Davos, na Suíça (uma Gramado com grife), onde chefes dos estados mais ricos do mundo reúnem-se em mesas de mármore para beber dos vinhos mais caros, tragar os charutos mais sofisticados (CU-BA-NOS), e saborear pratos que eu e você não conseguiríamos soletrar. Em meio a isso, discutem as melhores maneiras de se manter o sistema neoliberal e manter a riqueza de seus países. Obviamente, só os mais ricos participam. Vez ou outra, convidam o presidente de algum país pobre, como por exemplo, sei lá, Brasil, para dar uma palestra e deixar todos fascinados, sem que isso, é claro, diminua as barreiras comerciais e alfandegárias que eles impõem a estes países subdesenvolvidos.

"Que tal aquele Cabernet de ontem?"
Bom, mas o assunto do post é o Fórum Social, e não os bacanas que estão no país mais neutro do mundo. O tema deste ano do Fórum Social, pasmem, é a economia, afinal, o sistema neoliberal, como nós estamos vendo, está se afogando em sua própria piscina, e é preciso discutir alternativas para o que virá daqui para frente.
Entretanto, seria muita hipocrisia realizar um Fórum Social Mundial na Amazônia sem discutir a questão indígena. Obviamente, este problema será um dos assuntos mais abordados, devendo contar, inclusive, com a presença de dezenas de tribos da Amazônia, as quais tiveram transporte gratuito até o Fórum. E é preciso que se discuta muito a fundo, realmente esta questão. Afinal, não bastasse estarem sem a terra que a eles lhe pertence, os indígenas estão sendo encurralados cada vez mais, em áreas restritas da Amazônia. Felizes das tribos que nunca tiveram contato com o homem branco (se é que alguma ainda teve essa sorte).
Talvez a idéia de trazer as tribos seja apagar um pouco do vexame que o Brasil deu ao mundo na “comemoração” dos 500 anos de descobrimento (sic) do Brasil, em 22 de abril de 2000. Naquele dia, tribos indígenas foram espancadas e expulsas das festividades em Porto Seguro, as quais, obviamente, eram restritas apenas ao homem branco, civilizado e responsável por trazer a luz e a ordem a este eldorado imerso no pecado.

"Nós deram espelhos, e vimos um mundo doente..."

Deverão participar do Fórum os presidentes símbolo da nova corrente política que se espalha pela América Latina com a vontade do povo, e que espalha medo pelas Vejas da vida: Hugo Chávez, da Venezuela, Evo Morales, da Bolívia, Rafael Correa, do Equador, e Fernando Lugo, do Paraguai, além de outros esquerdistas mais teóricos, que são (eram) desta corrente: Lula, do Brasil, e Michele Bachellet, do Chile. A imprensa, lógico, tratou logo de qualificar o Fórum como “um encontro de esquerdistas/loucos/ditadores/malvados. Sem querer me estender muito, fico na esperança de que novas idéias, novos mundos, realmente surjam da beira da foz do Amazonas.
E é uma pena, uma pena mesmo, que Porto Alegre não receba mais o Fórum. Me arrependo imensamente de não ter ido em alguma das edições que aconteceram na terra de Ronaldinho Gaúcho. Espero que, em breve, a capital volte a receber uma edição do evento. Se isso acontecer, estarei lá com minha barraca, com certeza. Enquanto isso, só nos resta torcer que a turma que está reunida na terra do Mercado Ver-o-Peso consiga buscar alternativas ao sistema que está apodrecendo. Afinal, não nos fizeram acreditar que outro mundo é possível?

24 de jan. de 2009

Na falta de um cinema, vamos de DVD mesmo

Bom, já que hoje é sexta-feira, é final de mês, estamos todos duros e quase sem recursos para fazer algo mais SOFISTICADO no findi, resolvi fazer um post de utilidade pública e falar um pouco sobre os últimos filmes que andei assistindo. A maioria são coisas boas, mas na última quarta-feira, tive um surto e senti uma vontade INCONTROLÁVEL de locar um filme comercial, como vocês verão num dos relatos abaixo.

O Banheiro do Papa – Já citado por inúmeras vezes neste blog e tema, inclusive, de um post (olha aqui ó: http://paposchatos.blogspot.com/2008/08/o-banheiro-do-pan.html), O Banheiro do Papa está disponível em Garibaldi para locação na Vídeo.com. Claro que, quando vi o dvd lá, quase surtei, mas sim, ele era real. Só um detalhe: ele ta na prateleira das Comédias, mas tudo bem. Bom, mas sobre o filme, ele entrou no meu Top 3. É realmente tudo aquilo que falam. Não vou contar nenhum detalhe da película porque todos vocês PRECISAM assisti-lo. Mas El Baño del Papa é mais um prova que o cinema latino-americano é, sim, um dos melhores do mundo, fazendo filmes brilhantes com pouquíssimos recursos.


Capriche na pipoca
Sombras de Goya – Dica da Vivi, a dona da locadora, Sombras de Goya nos leva até o século XVIII para conferir os resquícios e o terror da Inquisição espanhola, uma das mais cruéis da Europa. Recomendo, até para observarmos as atrocidades cometidas pela Igreja Católica num passado não tão distante assim. Ah, um dos atores principais é Javier Barden, ou seja, a qualidade está garantida.

O Amor nos Tempos do Cólera – Baseado no excelente livro de Gabriel García Márquez, é outro filme excelente, a não ser que você não goste de drama e romance. O único detalhe imperdoável na película é o fato da história toda se passar na Colômbia, e o filme ser falado em... inglês! Ah, para os patrióticos: Fernanda Montenegro é uma das atrizes do filme. E dá show, obviamente.

Ensaio Sobre a Cegueira – FANTÁSTICO. PROFUNDO. IMPERDÍVEL. Isso basta para falar desse filme, baseado em um dos meus livros favoritos.


Juliane Moore puxa a fila de grandes interpretações em Ensaio Sobre a Cegueira

Hancock – Errr... Glup... Ta, sim, eu retirei Hancock, e daí? Sabe aqueles dias em que você precisa assistir um filme comercial? Pois estão, quarta-feira era um desses dias, e aí eu O FIZ. Pois Hancock é insuportável. Will Smith deve ser um robô, pois seus gestos, seus movimentos, seus roteiros são iguais em todos os filmes. Aliás, falando em roteiro, é o mesmo de todos os filmes de ação: um herói fodão, que passa por todo mundo e quase morre no final. Mas só quase, porque por milagre ele sobrevive. Ops, contei o final do filme! Bom, melhor assim, aí vocês não precisam retirar. Economizarão seu rico dinheirinho.

O Último Rei da Escócia – Sim, SÓ HOJE eu fui assistir O Último Rei da Escócia, filme sensacional com a MONSTRUOSA atuação de Forest Whitaker. Mas pó, antes tarde do que nunca, né?

"Ugandaaaaa!!!"

Então crianças, eram essas as dicas que eu tinha para o final de semana, quando a locadora deverá ser uma boa e barata companhia. Comportem-se e obedeçam os pais, senão o Tio Hancock vai joga-los até a estratosfera, viu?

20 de jan. de 2009

Ensaio sobre o clichê “o dia de hoje entra para a história”

Confesso que, após assistir um filme como Ensaio Sobre a Cegueira, fica-se realmente um tanto perturbado, pensando em certas coisas. Mas achei oportuno o momento, e o dia, afinal estamos todos “cegados” pelo efeito Barack Obama que vimos hoje, exaustivamente, na tv, na internet, e que veremos amanhã nos jornais impressos.
Pois o fato é que Barack Hussein (que ironia, hein Bush?) Obama entrou para a história hoje. Todos nós entramos. Daqui a dez, vinte, CINQÜENTA (Trema VIVE), cem anos, o dia de hoje estará presente nos livros didáticos como o dia em que os Estados Unidos empossaram o seu primeiro presidente negro da história. Todos nós estamos contaminados por um sentimento de euforia, de emoção, de esperança, enfim, por aquele clima que só existe no Reveillon. A mídia noticia aquilo que parece ser a salvação do mundo. Será assim mesmo?

lágrimas, tomara, só de alegria
Bom, vamos aos fatos. Os Estados Unidos estão em franca queda no seu poderio, enfrentando a segunda crise econômica mais grave de sua história. Ok, Obama é negro, é da “minoria” (apesar de ser rico), mas é bom lembrar que uma andorinha só não faz verão. É preciso atender a todos que estão presos, vitaliciamente, à esta imensa teia chamada Poder. Ora, o Brasil elegeu um operário, e não vimos por aqui uma nova Revolução Russa, apesar do “Eu tenho medo” (DUARTE, Regina, 2002).

boleragi

Certo, lá vem o Johnny pessimista, desprendido de seus sonhos de início de faculdade, para gritar “Não vai mudar nada! Nunca vai mudar!”. Não, também não é assim. Com certeza teremos mudanças, mas, na minha opinião, estão vendendo uma imagem do novo presidente dos EUA que ele não conseguirá cumprir, mesmo se quisesse. Afinal, os EUA continuam imperialistas (aliás, não gostei do Obama chamando seu país de América; perdeu pontos comigo), as restrições comerciais aos países do terceiro mundo (ou emergentes, né Elisa?) continuarão fortes, enfim. Os EUA continuarão sendo os EUA. Afinal, para nosso azar, Obama não é comunista.
Até onde eu sei, não come criancinhas.

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Ah, em tempo: George War Bush, já vai tarde. Esperamos nunca, jamais, ver a sua cara de novo, porco assassino, imperialista maldito, idiota ignorante.
Pronto, desabafei.

Tu não merece mais do que três linhas. ah, e apaga a luz. Kioto agradece.

17 de jan. de 2009

Alienação hindu (parte 2)

Eu, há cinco meses atrás: http://paposchatos.blogspot.com/2008/08/se-voc-daquelas-pessoas-que-adoram.html

"Pois Caminho das Índias, a próxima novela da acima citada, vai falar sobre a (!) Índia! Vem aí nomes estranhos, no idioma hindu (ou seja lá qual for o idioma que a Glória Perez criar), roupas coloridas, enfim, moda indiana. O Globo Repórter, muito em breve, deverá fazer alguma matéria especial sobre a Índia, as revistas de moda só falarão sobre a Índia, todos só falarão sobre a Índia, Índia, Índia. Já vou avisando desde já".

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A Globo, ontem: http://video.globo.com/Videos/Player/Entretenimento/0,,GIM948897-7822-CONHECA+OS+SEGREDOS+DA+INDIA+NO+GLOBO+REPORTER+DESTA+SEXTA,00.html

"Conheça os segredos da Índia no Globo Repórter desta sexta"



E isso é só o começo.

13 de jan. de 2009

Vamos dar uma alienadinha?

Neste exato momento, enquanto escrevo este post, a grande, a esmagadora maioria dos brasileiros estão ligados em um programa. Não é qualquer programa. É o programa de maior audiência da televisão brasileira. É o programa que vai ser a base de 98% das conversas, até abril, nas salas de aula, nos escritórios, nos bares, após o futebol, e, quem sabe, até no Palácio do Planalto. Sim, é ele, o Grande Irmão do Brasil.
Por favor, apenas um aviso: se você assiste este programa, não chegue perto de mim. Ou, pelo menos, não comente NADA sobre o dito cujo perto de mim. E eu estou falando sério.
É simplesmente incompreensível como algo tão fútil, tão mesquinho tão baixo e tão vulgar pode fazer tanto sucesso. Será que as pessoas que estão lá dentro são um reflexo dos que assistem? Pode ser. Mas a questão é que não são apenas as pessoas das classes menos favorecidas, e, TEORICAMENTE, as que tem menos “cultura”, que assistem o Grande Irmão. Todas as classes sociais assistem. Tenham certeza que o assunto mais comentado em jantares burgueses, em salões de beleza cujo atendimento custa mais que meu salário do ano todo, nas faculdades, enfim, nos mais diversos lugares da “alta sociedade”, será o programa que inicia hoje.
E como se já não bastasse a Yeda, desgraça pouca é bobagem para o Rio Grande do Sul. Leio em sites por aí que o nosso estado, proclamado aos quatro ventos como o mais politizado, o mais culto, o mais desenvolvido do Brasil, terá TRÊS representantes. Semana passada, estava degustando o DELICIOSO almoço preparado por estas mãos que ora digitam o teclado, quando o Jornal do Almoço (melhor nome) passa uma matéria mostrando a vida, as fotos, as famílias, os cachorros, os canários belgas, enfim, tudo sobre os três gaúchos que nesse momento estão conversando com Pedro “Adoro Fazer Crônicas” Bial. Obviamente, quando vi do que se tratava, troquei de canal, mas quando voltei para o canal dos Sirotski, mais de dez minutos depois, a matéria ainda estava lá, me atormentando. Com certeza, foi a grande matéria do dia, afinal, passou no horário mais “nobre” do noticiário.
Ontem estava no ClicRBS quando vejo uma das matérias: “Família de Fulana (nome da participante) já encomendou as camisetas para a torcida”. E a matéria dedicava-se a mostrar como ia ser a camiseta que a família de uma das três pessoas usaria para torcer pela bendita. Dava, inclusive, detalhes como o local onde foi feito e o número de camisetas encomendadas. A mãe, inclusive, deu uma declaração parecida com essa: “Ela pediu que as camisetas fossem desse tipo”.
É, realmente não será fácil sobreviver intacto às rodas de conversa nos próximos três meses. O que nos resta é tapar os ouvidos ou engolir o que dizem e depois vomitar tudo no banheiro.
Recomendo, também, não entrar em sites do tipo Terra, Globo, Uol, entre outros, pois o assunto do momento todos já sabem qual é. Não, não é o genocídio em Gaza, não é a crise econômica mundial, não é a posse de Obama. È um programa que oferece muita cultura, ensino e inteligência à população brasileira. Um programa que ensina vícios lindos como cigarro e bebida. Um programa que nos faz refletir muito sobre a situação atual do Brasil. Afinal, um programa cuja proposta é dar comida, bebida, diversão e tranqüilidade (Trema FOREVER) de graça a 18 pessoas sem cérebro deve ser muito mais interessante do que Papos Chatos como política, cultura, educação...

12 de jan. de 2009

POST EXTRA - Ministério Público de SC processa a RBS por monopólio!

Achei esse texto no Observatório da Imprensa e, obviamente, precisava dividir com vocês!


ENTREVISTA / CELSO TRES "É a RBS que governa o estado"

Por Rafaela Mattevi e Cora Ribeiro em 16/12/2008

Publicado originalmente no jornal-laboratório Zero, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), edição de novembro 2008

Na quarta-feira (10/12), o Ministério Público Federal de Santa Catarina entrou com uma Ação Civil Pública (processo nº. 2008.72.00.014043-5) contra o oligopólio da empresa Rede Brasil Sul (RBS) no Sul do Brasil. O MPF requer, entre outras providências, a diminuição do número de emissoras da empresa em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, de acordo com a lei; e a anulação da compra do jornal A Notícia, de Joinville, consumada em 2006 – que resultou no virtual monopólio da empresa em jornais de relevância no estado de Santa Catarina. O quadro geral da situação pode ser conferido a seguir, na entrevista realizada em novembro com Celso Tres, um dos procuradores que elaborou a medida judicial.
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O Cade também é réu

Desde 2006, o MP fala em processar a RBS pela compra do jornal A Notícia. Isso vai acontecer?

Celso Tres – Sim, a ação está sendo instruída há dois anos, por meio de um Inquérito Civil Público (ICP), porque é bem complexa. Também participam vários procuradores no estado. A RBS tem uma posição totalmente dominante. No RS e em SC, são 18 emissoras de televisão, dezenas de estações de rádio, uma dezena de jornais. E a culminância disso foi quando a RBS comprou o jornal A Notícia, o que a tornou dona de todos os jornais de expressão dos dois estados.
Então, o que nós vamos discutir é essa questão do oligopólio à luz inclusive da lei que regula a ordem econômica, não é nem a lei da mídia propriamente dita. É tão grotesco isso, que nem essa lei que regula a atividade de economia em geral permite o oligopólio – obviamente, é muito menos lesivo numa sociedade você ter um oligopólio de chocolate, pasta de dente, do que ter oligopólio da mídia. Falo oligopólio, porque monopólio seria a exclusividade absoluta; mas a RBS tem posição quase totalitária.
A tendência da economia é a concentração e, por isso, certas compras de empresas têm que ser analisadas. Esse caso da RBS é um escândalo, ela governa o estado. Como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou a compra do AN? O Cade é réu na ação porque aprovou isso.

Violação a direito difuso

O que vai ser requerido, especificamente, na ação?

C.T. – Em linhas gerais, o que o MP demanda é: primeiro, que a compra do AN seja desfeita – eles vão ter que devolver o jornal para o antigo dono ou vender para terceiros; segundo, que seja cumprida a lei que diz que eles só podem ter no máximo duas emissoras no estado, ou seja, que acabe essa farsa que é de ser tudo da mesma família; e terceiro, o que eu acho mais importante, a implementação da programação local. A Constituição Federal determinou que é obrigatória a programação local. Só que em 20 anos nunca se adequou a lei. Então, o MP está querendo que a Justiça arbitre um percentual – 30% de programação local no âmbito do estado e 15% em cada região, no mínimo.
São inúmeros réus: todas as pessoas físicas da RBS, cada "emissora", o Cade; a União, por causa do Ministério das Comunicações (MC). E o MP pede para que a Justiça estabeleça uma multa por violação a um direito difuso, em razão da omissão do poder público. A gente vai entrar com a ação nos próximos meses e a sentença em primeiro grau deve sair em um ano.

Evitar concentração

O que foi feito no Inquérito?

C.T. – O ICP não é um processo judicial, não tem contraditório, ou seja, quem é investigado não tem direito de resposta. Mesmo assim, o MP abriu pra RBS se manifestar e, inclusive, eles vieram com o mesmo discurso do Ministério da Comunicação. Eles [a RBS e o MC] se comunicaram, é uma piada. A mesma pessoa que redigiu a resposta do Ministério redigiu a da RBS, é uma coisa vergonhosa. O mesmo discurso: "Não, porque a lei diz que é a mesma pessoa física só que no caso não é." É chamar o legislador de imbecil.
Quando a lei diz que tu não podes ser titular de mais de dois veículos, qual é o objetivo dela? É evitar concentração. Se é da mesma família, se tem a mesma programação, está concentrado, é evidente. É uma fraude clara ao objetivo da lei. Não teria sentido proibir que alguém seja proprietário de mais de dois meios de comunicação e permitir que esse meio de comunicação transmita a mesma programação, tenha a mesma linha editorial etc. É a mesma coisa que nada.

Pessoa física, e não pessoa jurídica

Então o problema do oligopólio é a fiscalização?

C.T. – A nossa legislação é desacatada porque o uso da radiodifusão sempre foi um benefício político. Essa relação do poder público está tão viciada que o MC não faz absolutamente nada para reprimir esses ilícitos e o caso da RBS é muito claro.
Na última eleição [para governador], isso ficou bastante evidente. A tríplice aliança de Luiz Henrique foi com a RBS; foi uma vergonha porque no primeiro turno a RBS anunciava que não ia ter segundo turno. Daí, deu segundo turno e eles anunciaram até um dia antes da eleição dizendo que a diferença era astronômica e, no final, deu 5% de diferença entre o Amin e o Luiz Henrique. Então não há dúvida de que a RBS elegeu o Luiz Henrique. Independentemente da pressão política, isso é irrelevante para o MP. Mas qualquer inocente sabe que a massificação de alguém que está na frente arrasa, induz o povo a votar.
Em cada estado, um titular só pode ter no máximo duas emissoras – emissoras, não retransmissoras. Este é outro vício: as emissoras têm outorgas de emissão, ou seja, elas deveriam produzir programação, mas não produzem ou fazem uma programação local ínfima, como é o caso da RBS. Existem várias "emissoras", em Florianópolis, Criciúma, Lages, Xanxerê, Blumenau, Joinville. Mas, na verdade, elas só produzem um noticiário local.
Hoje, na verdade, em SC, ou você trabalha na RBS ou você está fora. Você vai estar trabalhando ou em órgãos bem pequenos, espaço de trabalho inclusive bastante reduzido, caso do que eles fizeram com o AN. As matérias são as mesmas, teve um momento assim que chegaram ao ridículo de colocar a mesma manchete, a mesma matéria.
A radiodifusão – emissora de rádio e TV – deve estar em nome de pessoa física, não de pessoa jurídica, e cada pessoa só pode ter duas por estado. Daí, o que eles fazem é colocar em nome de pessoas da família. E isso tudo está demonstrado claramente na ação. Inclusive a questão da retransmissão.

Dizimar a concorrência

E isso não é contrato simulado, colocar tudo no nome da família inteira?

C.T. – Essa questão da titularidade é uma questão criminal, porque é uma falsidade ideológica. Isso a gente vai verificar mais tarde. O objetivo, agora, é mudar a realidade. O MC diz que não controla isso porque a RBS está em nome de terceiros. É óbvio que é irrelevante que a concessão esteja no nome de A ou B, até porque – como é o caso de Blumenau, que não está no nome da família Sirotsky – retransmitem a mesma programação, essa é a grande questão, o conteúdo.
A lei diz que ter 20% do mercado é ter posição dominante e obviamente a RBS tem isso. E essa questão tem vários aspectos: direito à informação e direito à expressão, e também a questão da publicidade. Por exemplo, o Diarinho de Itajaí, o que a RBS faz com os caras? Na Rede Angeloni, faz contratos publicitários, impedindo que o supermercado coloque lá o Diarinho para os caras venderem. Então não existe concorrência, acabou. A concorrência é dizimada. Na Grande Florianópolis, eles lançaram o jornal A Hora a R$ 0,25, o que é claramente um preço inferior ao de custo, pra dizimar com a concorrência. Essas são as práticas deles.

Executivo subalterno

Existe solução?

C.T. – A questão é permitir a multiplicidade. A rede pública de televisão, com a criação da TV Brasil, poderia ter sido uma saída, mas o governo fez tudo errado. O correto seria que o Estado disponibilizasse canais, não adianta tentar produzir programação.
Seria fácil: criar 30 canais de TV para serem disponibilizados à população. Depois seria só colocar retransmissoras públicas nos centros urbanos, para os canais transmitirem programação independente. Uma medida simples, percebe? Bastava criar os canais e construir as retransmissoras. É uma questão tecnológica e de vontade política.
Custaria muito mais barato do que o governo tentar produzir programação e todos teriam oportunidade de fazer sua produção. O governo faria as retransmissoras, pura e simplesmente. Seria uma revolução na comunicação. A mídia, em pouco tempo, mudaria porque, com uma multiplicidade de canais, o canal com maior audiência chegaria a 15%, 10%, como é nos EUA, que é o correto.
Certamente se o governo viesse "Ah, vamos fazer aplicar a lei das duas emissoras", eles iam dizer, "Não! É uma lei da ditadura! O Lula é o Chávez." É uma besteira. O que diz a lei? Cada cidadão tem que ter um número x de canais, essa é a meta. Podia botar no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) isso aí. É uma questão econômica, direitos individuais, gera muito emprego, oportunidades, veiculação comercial; atingiria em cheio a própria economia.

O principal modo de democratizar não seria combater o monopólio e o oligopólio?

C.T. – O primeiro passo seria esse, mas, como eu falei, os órgãos do executivo são muito subalternos e também a RBS pode virar o governo. Qual a finalidade de um deputado federal que vai lá propor uma legislação mais rígida para isso? Se é um deputado de SC, a RBS vai fazer algumas reportagens contra o cara e ele está acabado. O cara não se reelege mais.

Você já foi ameaçado?

C.T. – Não, por isso não.
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10 de jan. de 2009

Eu, eu mesmo e o futebol

Quinta-feira, 08 de janeiro de 2009. Em frente ao Hotel Dall’Onder Vitória, em Bento Gonçalves, centenas de pessoas. Um temporal está caindo. Nenhuma delas se importa. Todas estão na chuva, completamente ensopadas. Há crianças, há idosos. Todos pulam sob chuva, raios e trovões. O momento de maior loucura foi ao cantar Atirei o P.. no Inter.
Sim, o assunto volta a ser futebol. Milhares de pessoas enfrentaram o dilúvio que caía sobre a Serra Gaúcha na última quinta-feira para receber a delegação do Grêmio. Centenas de pessoas no trevo de acesso a Carlos Barbosa, outras tantas em frente ao Posto do Avião, e a maior concentração, em frente à Pipa Pórtico.
Só o futebol. Só o futebol seria capaz de movimentar, de mobilizar as pessoas desta maneira. Será que se o assunto fosse “Protesto contra a Chacina em Gaza”, alguém sairia de sua casa naquele dia? Os jogadores passaram, abanaram e entraram no hotel, onde tomariam um banho quente, comeriam do bom e do melhor e checariam sua conta bancária para ver se o astronômico salário já estava depositado. Enquanto isso, as milhares de pessoas que estavam lá, sob a chuva, iriam para casa, provavelmente muitos deles acordariam no dia seguinte com uma forte gripe, outros perderiam pertence4s no meio do tumulto (fiquei sabendo que um guri de Garibaldi perdeu o celular NOVO com TV DIGITAL). Talvez muitos não teriam o que comer. Mas estavam realizados, pois estavam felizes, aquele momento os satisfez.
No link a seguir, vocês podem conferir algumas fotos do "evento": http://www.clicrbs.com.br/clicesportes/jsp/default.jsp?newsID=DYNAMIC%2Cgaleria.GalleryDelivery%2CphotosGalleryXml&mnit=7&template=1482.dwt&groupid=39&galeriaid=16161&uf=1&local=1&section=galeria

É, vai entender o futebol.




Em tempo: muitos de vocês devem estar se perguntando como eu sei todas essas informações, não é mesmo?
Bom, eu estava lá também.

Sim, já podem atirar as pedras.