30 de set. de 2008

Muros, algemas e coisas do gênero

Eu trabalhei por mais de quatro anos na imprensa, dei uma pausa nesse ano, mas em 2009 voltarei a trabalhar com comunicação, e posso confirmar para vocês: a imprensa é muito podre.
Esse post soa como o óbvio ululante, algo que todos nós falamos, mas eu preciso repetir: incrível o poder que a mídia tem para distorcer ou colocar as informações da maneira que melhor lhe convêm.
Vamos falar apenas de dois exemplos: primeiramente, a questão do Muro da UFGRS, citado no post anterior. Li a matéria sobre o assunto na Zero Hora (logo onde, puts), e na matéria sempre era citado o fato de que o muro era propriedade pública. Ou seja, trazia-se à tona uma discussão, mas sempre com a “informação adicional” incluída, de maneira a colocar, de forma intrínseca na cabeça das pessoas, a opinião do veículo. O mesmo se lê no site da RBS e em outros veículos do grupo.
O segundo exemplo é o do já esquecido (esquecido? Por que será?) Caso Daniel Dantas, o banqueiro que tem poderes maiores do que Deus no Brasil e fraudou milhões dos cofres públicos. Nos tempos em que a notícia bombava (depois enjoou, sabe?), muitos veículos como o Jornal Nacional, Jornal da Globo e Jornal da Noite, este ancorado pelo “direitão” Boris Casoy, deram espaço à discussão se a Polícia Federal deveria ou não usar algemas na prisão dos suspeitos (sic). Ora, eles fraudam milhões de nossos cofres, enganam o povo por muitos anos, e querem que eles sejam tratados de que forma? Com champanhe? (pensando bem, é bem provável que eles tenham recebido champanhe francês na cadeia). Boris Casoy gastou preciosos minutos de seu telejornal discutindo à questão, citando, inclusive, que os suspeitos teriam sido tratados de forma violenta. No Senado, o senador Artur Virgílio, do (tcharam!!) PSDB, condenou a atitude da Polícia Federal, que teria usado “de muita força para com estes inofensivos homens”. Ah, eles desviaram milhões? Bom, isso é um mero detalhe que não deve importar muito ao NOBRE parlamentar...

"Ai, minhas lindas e delicadas mãos"

Enfim, o que eu queria dizer é isto: é muito fácil desviar o foco de uma notícia, e muitas vezes (ou na maioria) a maioria da população nem chega a perceber isto. Porém, percebem com extrema facilidade mudanças no caráter da personagem da novela.
Ah sim: agora, fiquem à vontade para me xingar por eu perder tempo lendo Zero Hora ou assistindo Jornal Nacional, Jornal da Globo e Boris Casoy.

Eu mereço.

27 de set. de 2008

O muro das lamentações

Completamente envergonhado por não postar a três dias, estou aqui raciocinando sobre o que eu poderia falar neste breve espaço de quinze minutos que tenho. Pois bem: falemos de um papo muito chato: um muro.
Vocês devem estar sabendo da história do muro da UFRGS, não é mesmo?
Bom, para quem não sabe, aí vai um resumão: uma estudante de Letras da UFRGS pintou um muro em frente ao Departamento com a frase: “Para que(m) serve o teu conhecimento? Aí um estudante de Ciências Contábeis entrou com um processo na justiça, alegando que aquilo significava dano ao patrimônio público. Dias depois, a pintura foi “estragada” por diversos estudantes que jogaram tinta por cima da frase. A polêmica se espalhou, há um movimento a favor da pintura quer o estudante que entrou com o processo promete levar o caso até a Justiça Federal.

Onde vamos parar? Por que este bendito questionamento em torno de uma pintura? Qual o problema em pintarmos essa frase? Será que os estudantes não querem que as pessoas pensem? Qual é, então, o papel de uma universidade.

Mais ridículo que este processo é a mídia “coronelista” sempre referindo-se ao muro como “patrimônio público” ou “pintou sem autorização”. Só aí, já percebemos de que lado ELES estão, não é mesmo?




O muro, antes do verdadeiro vandalismo.

O assunto merece ser mais aprofundado, mas deixo isso para as discussões nos comentários. Estou no aguardo.
Ah, agradecimentos especiais à Elisa, por me mandar o panfleto referente à situação...

Aqui, um blog sobre o assunto: http://www.muralharubronegrabrasil.blogspot.com/

Para que(m) serve este blog?

24 de set. de 2008

"E se a gente desse a ele o nome do Papa?"

Pois é...

Você percebe que está começando a ficar velho quando...

... não encontra mais o dígito 1 no seu bolo de aniversário;
... percebe que não tem mais vergonha em sair de casa com o guarda-chuva;
... sempre leva um casaco na sua mochila (precaução né... vai que dá uma friagem...);
... se dá conta que todos os jogadores que você viu na Copa de 94 (para você, a melhor Copa de todas) já se aposentaram;
... não vê mais graça nos Ursinhos Carinhosos;
... se estressa quando vê um episódio repetido do Pica-Pau;
... faz “amizade” com pessoas que nasceram quando você já ia pra escola;
... sente saudades de Mirinda e Lollo;
... acha nojento o cheiro de Cheetos Bola;
... começa a colocar durex nas suas revistas preferidas;
... olha para o relógio logo depois que termina o show no Joe;
... diz que tênis bom mesmo era o Le Cheval;
... usa expressões como “no meu tempo” ou “quando eu ia para o colégio”;
... começa a organizar sua festa de formatura da faculdade;
... diz que não surgiu nenhuma novidade na música depois dos anos 80;
... de vez em quando mexe nas suas fitas K-7;
... diz que filme de comédia bom mesmo era Loucademia de Polícia;
... já viu pelo menos cinco vezes cada um dos filmes que passa na Sessão da Tarde;
... diz com orgulho: “bá, lembro daquela noite que o Grêmio foi bi-campeão da América”;

e principalmente:

... quando se dá conta que a Sandy, a Mariquinha que não queria abrir a porta...

... está CASADA!!!

20 de set. de 2008

Sirvam nossos mitos de modelo a toda terra

No dia em que a nossa mídia exalta as “façanhas” dos farroupilhas no século XIX, não podia deixar esta data passar em branco sem escrever algo por aqui. Não quero causar polêmica, mas o fato é que não gosto da Semana Farroupilha. Ao menos, não da forma como ela é explorada.
Um fato: o Movimento Tradicionalista é um verdadeiro negócio. Aqui entre nós, será que podemos chamar de “culto às tradições” as 500 regras que existem para se “pilchar” ou se comportar num CTG? Será que aquilo que temos de vestir categoricamente no Movimento Tradicionalista realmente é o que representa a nossa tradição? Ou tudo não passa de uma simples construção de uma imagem, de um mito? Afinal, como todos devem saber (e a própria mídia apresenta), os CTGs surgiram por volta da década de 40 do século passado, ou seja, foram sendo construídos aos poucos, ao bel prazer de seus idealizadores, que idealizaram e construíram uma imagem do gaúcho como nenhum estado conseguiu fazer.
Não sou contra CTGs, mas por favor, não me venham dizer que aquilo é história. Vamos ver alguns fatos.
Comecemos pelo próprio nome: “Revolução Farroupilha”. Qual o conceito de Revolução? Segundo o Dicionário, Revolução significa uma mudança brusca, violenta e profunda na estrutura de uma sociedade, seja em âmbito político, social e econômico. E quais foram as mudanças radicais que observamos na sociedade do Rio Grande pós Guerra dos Farrapos? Nenhuma, até porque a idéia não era provocar mudanças, mas sim conseguir benefícios em prol da elite de estancieiros gaúchos, os verdadeiros provocadores da batalha, e não “o povo gaúcho”, como diz a mídia. Apenas uma pequena parcela da população estava envolvida com o combate. Cai por terra também o mito do “povo peleador, louco por brigas”.
Sim, a Guerra dos Farrapos (nome estranho para um combate comandado pela elite) não passou de uma revolta das camadas mais altas da sociedade gaúcha, sendo que em nenhum momento a idéia inicial era criar um estado independente. A fundação da República Riograndense foi um fato desencadeado por diversos ocasos. O próprio Bento Gonçalves, tão idolatrado, era um monarquista conservador, passando para o “lado republicano na força” somente muito mais tarde, já com a guerra em andamento.
Idolatramos “heróis” como Bento, Giuseppe Garibaldi, David Canabarro (este não passava de um grande mercenário), mas JAMAIS a mídia lembra dos milhares de negros e índios que foram forçados a participar dos combates, e geralmente na linha de fogo, abrindo caminho e sofrendo a maior parte das baixas. Assim, conforme a “revolução” andava, também dava-se seqüência ao processo de limpeza étnica, eliminando negros e índios da sociedade.
Um dos ideais da “revolução” era o de Liberdade. Mas afinal, de que liberdade estamos falando? Afinal, em nenhum momento cogitou-se a libertação dos escravos, e a própria constituição da República Riograndense definia como “cidadãos” apenas os homens livres.


A mídia sempre fala dos ideais de bravura, valentia e coragem dos farroupilhas. E do Massacre de Porongos, onde milhares de negros foram dizimados numa clara demonstração de “limpeza” étnica, por que ninguém fala?
Muita gente não gosta de ler um texto desses, ainda mais em 20 de setembro. Por isso, fico por aqui. Ah, apenas para encerrar: não aconteceu nenhum movimento importante no dia 20 de setembro para que ele fosse firmado como “o precursor da liberdade”. Mas sabe como é...

“Foi o 21 de setembro, o precursor da liberdade”, não se encaixa bem no Hino.

18 de set. de 2008

Para gostar de ler

E tudo mudou...

O rouge virou blush
O pó-de-arroz virou pó-compacto
O brilho virou gloss
O rímel virou máscara incolor
A Lycra virou stretch
Anabela virou plataforma
O corpete virou porta-seios
Que virou sutiã
Que virou lib
Que virou silicone

A peruca virou aplique, interlace, megahair, alongamento
A escova virou chapinha
"Problemas de moça" viraram TPM
Confete virou MM

A crise de nervos virou estresse
A chita virou viscose
A purpurina virou gliter
A brilhantina virou mousse
Os halteres viraram bomba
A ergométrica virou spinning
A tanga virou fio dental
E o fio dental virou anti-séptico bucal

Ninguém mais vê...

Ping-Pong virou Babaloo
O a-la-carte virou self-service
A tristeza, depressão
O espaguete virou Miojo pronto
A paquera virou pegação
A gafieira virou dança de salão
O que era praça virou shopping

A areia virou ringue
A caneta virou teclado
O long play virou CD
A fita de vídeo é DVD
O CD já é MP3
É um filho onde éramos seis
O álbum de fotos agora é mostrado por email
O namoro agora é virtual
A cantada virou torpedo
E do "não" não se tem medo
O break virou street
O samba, pagode
O carnaval de rua virou Sapucaí
O folclore brasileiro, halloween
O piano agora é teclado, também
O forró de sanfona ficou eletrônico

Fortificante não é mais Biotônico
Bicicleta virou Biz
Polícia e ladrão virou counter strike
Folhetins são novelas de TV
Fauna e flora a desaparecer

Lobato virou Paulo Coelho
Caetano virou um chato
Chico sumiu da FM e TV
Baby se converteu
RPM desapareceu
Elis ressuscitou em Maria Rita?
Gal virou fênix
Raul e Renato, Cássia e Cazuza, Lennon e Elvis,
Todos anjos
Agora só tocam lira...

A AIDS virou gripe
A bala antes encontrada agora é perdida
A violência está coisa maldita!
A maconha é calmante

O professor é agora o facilitador
As lições já não importam mais
A guerra superou a paz
E a sociedade ficou incapaz...
... De tudo.

Inclusive de notar essas diferenças.

Como vocês já devem estar cansados dos lamúrios de um esquerdista sem causa, nada como Luís Fernando Veríssimo para brindar a sexta-feira que se aproxima.

16 de set. de 2008

Um 11 de setembro que Machuca, há 35 anos - parte 2

Encontrei este material e resolvi compartilhar com vocês! ;)

"Seguramente, esta será a última oportunidade em que poderei dirigir-me a vocês. A Força Aérea bombardeou as antenas da Rádio Postales e da Rádio Corporación. Minhas palavras não têm amargura, mas decepção. Que sejam elas um castigo moral para quem traiu seu juramento: soldados do Chile, comandantes-em-chefe titulares, o almirante Merino, que se autodesignou comandante da Armada, e o senhor Mendoza, general rastejante que ainda ontem manifestara sua fidelidade e lealdade ao Governo, e que também se autodenominou diretor geral dos carabineros.
Diante destes fatos só me cabe dizer aos trabalhadores: Não vou renunciar! Colocado numa encruzilhada histórica, pagarei com minha vida a lealdade ao povo. E lhes digo que tenho a certeza de que a semente que entregamos à consciência digna de milhares e milhares de chilenos, não poderá ser ceifada definitivamente. [Eles] têm a força, poderão nos avassalar, mas não se detém os processos sociais nem com o crime nem com a força. A história é nossa e a fazem os povos.
Trabalhadores de minha Pátria: quero agradecer-lhes a lealdade que sempre tiveram, a confiança que depositaram em um homem que foi apenas intérprete de grandes anseios de justiça, que empenhou sua palavra em que respeitaria a Constituição e a lei, e assim o fez.
Neste momento definitivo, o último em que eu poderei dirigir-me a vocês, quero que aproveitem a lição: o capital estrangeiro, o imperialismo, unidos à reação criaram o clima para que as Forças Armadas rompessem sua tradição, que lhes ensinara o general Schneider e reafirmara o comandante Araya, vítimas do mesmo setor social que hoje estará esperando com as mãos livres, reconquistar o poder para seguir defendendo seus lucros e seus privilégios.
Dirijo-me a vocês, sobretudo à mulher simples de nossa terra, à camponesa que nos acreditou, à mãe que soube de nossa preocupação com as crianças. Dirijo-me aos profissionais da Pátria, aos profissionais patriotas que continuaram trabalhando contra a sedição auspiciada pelas associações profissionais, associações classistas que também defenderam os lucros de uma sociedade capitalista. Dirijo-me à juventude, àqueles que cantaram e deram sua alegria e seu espírito de luta. Dirijo-me ao homem do Chile, ao operário, ao camponês, ao intelectual, àqueles que serão perseguidos, porque em nosso país o fascismo está há tempos presente; nos atentados terroristas, explodindo as pontes, cortando as vias férreas, destruindo os oleodutos e os gasodutos, frente ao silêncio daqueles que tinham a obrigação de agir. Estavam comprometidos.
A historia os julgará.
Seguramente a Rádio Magallanes será calada e o metal tranqüilo de minha voz não chegará mais a vocês. Não importa. Vocês continuarão a ouvi-la. Sempre estarei junto a vocês. Pelo menos minha lembrança será a de um homem digno que foi leal à Pátria. O povo deve defender-se, mas não se sacrificar. O povo não deve se deixar arrasar nem tranqüilizar, mas tampouco pode humilhar-se.
Trabalhadores de minha Pátria, tenho fé no Chile e seu destino. Superarão outros homens este momento cinzento e amargo em que a traição pretende impor-se. Saibam que, antes do que se pensa, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor.Viva o Chile! Viva o povo! Viva os trabalhadores! Estas são minhas últimas palavras e tenho a certeza de que meu sacrifício não será em vão. Tenho a certeza de que, pelo menos, será uma lição moral que castigará a perfídia, a covardia e a traição."


(Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973)

Abaixo, o link com o vídeo do último discurso:
http://br.youtube.com/watch?v=xZeEfXjTNu4&feature=related

14 de set. de 2008

La mala educación

Ahhh, a educação. O clichê mais comum entre muitos políticos: só a educação salva este país. É preciso melhorar a educação para que o país ande, etc e tal. Recentemente, o presidente Lula anunciou que boa parte dos recursos que serão gerados pela extração do petróleo na recém descoberta bacia do pré-sal serão investidos em educação. Muito bem. Agora, eu pergunto: de que forma?
É fato que o sistema educacional brasileiro está falido. Quem vê de fora credita o fracasso do sistema educacional brasileiro aos professores, muitos deles sem vontade, ou aos alunos “bando de vagabundos”, é o que dizem alguns. Concordo, em partes, no que diz respeito aos professores, mas quem trabalha e/ou convive com isso, sabe da verdade: nossa educação, da maneira que está, está fadada ao fracasso.
João Goulart pretendia fazer uma grande reforma educacional no Brasil. Obviamente, não conseguiu, derrubado pelos militares que resolveram evitar que Jango comesse criancinhas (e grandes propriedades de terra) por aí. Implantaram, assim, o ensino pragmático, com matérias como OSBP e Educação Moral e Cívica, onde as pessoas aprendiam o que significava o brasão brasileiro e a posição de cada estrela na bandeira do Brasil.
Vinte anos com vendas nos olhos fizeram mal à educação brasileira. Hoje, o que vemos é um ensino arcaico, retrógrado e que não ensina nossos alunos a pensar. Damos mais valor à descoberta de como resolver uma equação de quarta potência do que saber o que é Esquerda e o que é Direita. Uma das alunas a quem darei aula a partir dessa semana contou-me que a sua professora de geografia foi repreendida pela vice-diretora quando tentou implantar com os alunos um trabalho de pesquisa sobre os diferentes partidos políticos existentes no Brasil. Segundo a vice-diretora, “isso é apenas matação de tempo”, “isso não acrescenta nada à matéria”, entre outras frases. Esta mesma aluna contou-me que as aulas de Sociologia não passam de meras aulas de religião. Conceitos como Socialismo/Capitalismo, Marxismo/Positivismo nunca foram vistos por eles. “Tô me formando no Ensino Médio e não sei o que faz um senador”, disse a aluna.

Qualquer semelhança com o que vimos na Semana da Pátria 2008 não é mera coincidência

De nada adianta investirmos milhões em classes novas, em livros didáticos, se nossos professores não sabem usa-los e se o sistema educacional do Brasil continuar desta maneira, um zumbi vagando pelas paredes e carteiras deste Brasil.
Que se reforme a educação, que se reformem os professores, que se reformem as universidades. Do contrário, continuaremos a formar apenas jovens alienados, jogadores de Playstation e espectadores de novelas. Tudo com um amargo gosto de sal com petróleo.


12 de set. de 2008

Um 11 de setembro que Machuca, há 35 anos

Não podia deixar este dia acabar (provavelmente será postado depois da meia-noite, mas tudo bem) sem postar algo sobre 11 de setembro, esta data tão especial para a história. E não, não estou falando de 11 de setembro de 2001. Quis o destino que o atentado aos EUA acontecesse justamente num dia que já era histórico, mas desde 2001 este fato ficou em segundo plano quando o calendário assinala 11 de setembro.
Há 35 anos, forças militares chilenas lideradas pelo general Augusto Pinochet bombardearam e invadiram o palácio presidencial de La Moneda, em Santiago, deflagrando o golpe militar que culminaria em uma das mais sangrentas ditaduras já impostas nos tempos modernos.
O caso chileno é único, é especial, no meio de tantas ditaduras que se implantaram na América Latina nas décadas de 60 e 70. E essa especificidade se refere a um homem: Salvador Allende.
Depois de ter sido derrotado nas eleições presidenciais de 1964, Allende saiu-se vitorioso no pleito de 1970. Parecia ser o início de uma sonhada mudança na história política do planeta. Pela primeira vez na história, um presidente socialista, marxista, chegava ao poder através do voto, eleito democraticamente pelo seu povo. Allende foi o primeiro, foi único. Estava surgindo, como ele dizia, a revolução através da democracia.
Suas idéias previam mudanças radicais, contestações do poder de cima para baixo. Reforma agrária, distribuição de renda, nacionalização e tantas palavras que soavam mal aos ouvidos capitalistas começaram a ser pronunciadas e faziam parte dos projetos de Allende.

Tenía un sueño.
Obviamente, isso não agradou nem um pouco a quem estava enraizado no poder e a quem detinha o capital. A nacionalização das reservas de cobre foi o estopim da fúria dos EUA, que deram início a um plano para derrubar o presidente chileno. A elite auxiliou, através de protestos, medidas para frear a economia, boicotes, etc. Pensando que Pinochet fosse um grande aliado, Allende desabafava com o “amigo” as suas angústias, e a decepção por não conseguir realizar as reformas de que tanto sonhava. Contou a ele seus planos de realizar um plebiscito junto à população para decidir sobre a continuidade de seu governo. Pinochet, ao saber disso, tratou de acelerar o planejamento do golpe. E logo no início da manhã de 11 de setembro de 1973, La Moneda foi cercado. Allende, que chegou ao palácio logo depois de saber da insurreição, ainda disse: “Pobre Pinochet, certamente deve estar preso a essa hora”.



Encontro de amigos: Pinochet e meu xará...



... e aqui, o povo a quem tanto serviu despede-se com muita tristeza.

Junto a seus fiéis funcionários e seguidores, o presidente socialista eleito democraticamente resistiu até que pôde. Alguns foram presos, outros torturados, outros fugiram, e de outros não há notícia até hoje. Allende teria se suicidado, segundo a versão oficial. Seu corpo, envolto em uma colcha, foi carregado pelos militares, e seu paradeiro verdadeiro ainda é motivo de dúvidas nos dias atuais.

Segundo dizem, comia criancinhas.

9 de set. de 2008

O que os olhos não vêem, a Globo não sente

Você tem acompanhado as Paraolimpíadas? Não? Não se preocupe, você não é o(a) único(a). Ninguém no Brasil está acompanhando as Paraolimpíadas. Motivo? Não sei. Meu lado ingênuo acredita que é pelo fato de haver notícias “mais importantes”. Meu lado contestador do lado ingênuo diz que é pelo fato de não haver apelo comercial.
Vou aos dois maiores portais de notícias do Brasil, o Terra e o Uol. Nenhum dos dois neste momento, às 23h06min, faz alguma menção aos jogos em sua página inicial.
No Globoesporte.com, há apenas uma atraente chamada “Dia de medalhas para o Brasil na Paraolimpíada”, situada no fim da página inicial, com menos destaque do que a notícia da “Musa do Brasileirão”.
Na televisão, quase não se fala disso. Óbvio que há alguma matéria no Jornal Nacional e no Globoesporte, mas é só para registro. Basta ver que a Globo mandou repórteres do “segundo escalão” para cobrir estas Paraolimpíadas, enquanto que nos Jogos Olímpicos só faltou a Fátima Bernardes direto da China, com aquele sorriso “oi, você não tem o que comer, mas um brasileiro chegou orgulhosamente em 23º lugar”.
Hoje, o Brasil ganhou CINCO medalhas de ouro, além de diversas outras de prata e bronze. No Globoesporte, falou-se apenas de três das cinco de ouro. Quanto aos prateados e “bronzeados”, não se mencionou nem o nome.
Uma Paraolimpíada passa despercebida, porque não tem o apelo comercial da sua “prima rica”, não atrai tanta gente, não movimenta o comércio, não dá audiência, etc.
E, ao contrário dos “jogos oficiais”, nesta o Brasil vai muito bem, obrigado. Estamos em QUINTO LUGAR no quadro de medalhas, pulverizando recordes mundiais. Mas provavelmente não veremos hino nacional tocando na íntegra no Fantástico e nem recordista aparecendo na Hebe, na Ana Maria Braga ou no Faustão.


Este brasileiro, Daniel Dias, tem três medalhas de ouro na natação, conquistadas com três recordes mundiais

No link abaixo você confere o quadro de medalhas: http://esportes.terra.com.br/jogosparaolimpicos/pequim/2008/interna/0,,OI3142637-EI12212,00.html
Ah! Ao contrário do quadro de medalhas dos Jogos Olímpicos, neste não consta o nome do ganhador de cada medalha, nem o esporte onde competiu.

Provavelmente não seja importante.

7 de set. de 2008

Crônica das 22 horas do domingo

No último domingo tivemos Chile x Brasil pelas eliminatórias da Copa do Mundo da África do Sul, popularmente conhecida, segundo os amigos do Impedimento, por MANDELÃO 2010. Foi o confronto Neruda x Machado de Assis, Bachellet x Lula, Allende x Jango, Pinochet x Médici, Concha y Toro x Acquasantiera.
Milhões de brasileiros ficaram acordados até a meia-noite, horário final da partida, mesmo sendo um depressivo final de domingo, mesmo sendo frio, mesmo com o Galvão Bueno. Entre aqueles que fizeram tal proeza, está este que vos escreve, alienado fã confesso de futebol.


Líder da torcida chilena no andar de baixo
Torci muito, mas muito para o Chile. Perguntarão os incrédulos, ainda eufóricos com os LINDOS e PATRIÓTICOS desfiles de 7 de setembro hoje realizados, quando lembramos nossa (sic) independência: por que você torceu contra? Será para que caia o técnico Dunga e dessa maneira a Seleção Brasileira retome o caminho das vitórias? Não, longe disso. Aliás, seja lá quem for o técnico do Brasil, torcerei com todas as minhas forças pelos adversários da seleção CANARINHO nestas Eliminatórias.

Pelo bem do Brasil, temos que ficar de fora da próxima Copa do Mundo. Vejo isso como fator primordial para a mudança de consciência do povo brasileiro, além da renovação do futebol, nossa maior paixão. Somente uma colocação abaixo do quinto lugar entre todos os países sul-americanos, onde o Brasil almeja ser o líder supremo em termos de política, vai provocar mudanças radicais e profundas no comando da Confederação Brasileira de Futebol, onde o governo absolutista de Ricardo Teixeira dura mais de duas décadas. Nem os militares ficaram tanto tempo assim no poder. E para piorar, se até alguns anos atrás a nossa maior emissora de televisão chegou a fazer um Globo Repórter Especial, somente com denúncias ao chefe-MOR da CBF, hoje os dois andam lado a lado, de mãos juntas (qualquer semelhança com a época da ditadura não é mera coincidência). Com Ricardo Teixeira fora, teremos excluída uma praga do nosso futebol, responsável por denúncias abafadas de corrupção, desvio de verbas, falência de clubes, etc. Para o bem de nosso futebol, que tenhamos Copa para o Brasil só em 2014. E para essa já estamos desgraçadamente classificados, afinal, ela vai ocorrer em nossos jardins.



O poderoso chefão

Outra razão: uma diminuição sensível na alienação do povo brasileiro. A cada quatro anos, o Brasil pára, literalmente. Até as mais radicais indústrias capitalistas, inimigas mortais do ócio e da perda de tempo, param sua produção durante jogos do Brasil na Copa. (com isso, não quero com isso dizer que quero que o Brasil fique fora do Mundial para que as empresas produzam mais! Por favor né!). O fato é que talvez o brasileiro perceba que existem coisas mais importantes do que o futebol, como por exemplo a política, a educação, etc, e que eles podem viver sem uma Copa do Mundo. Isto é, se o Galvão Bueno deixar né...

Por isso, reafirmo: Brasil fora da Copa, para o bem do Brasil! E para azar do Departamento Comercial da Globo...

PÓS-POST: O Dunga deve ter lido esse post e mostrou aos jogadores antes da partida. Só pode. Tudo o que escrevi se foi por água abaixo em 90 minutos.

5 de set. de 2008

Sirotski cabra-macho

Todo bom estudante de história, pessoas de bem, fãs do Lima Duarte e daquele comercial da Century ou leitores assíduos devem conhecer o termo Coronelismo, o qual faz referência ao sistema vigente no Nordeste no final do século XIX e primeira metade do século XX. Coronelismo é o nome que damos ao sistema onde o poder ficava nas mãos dos coronéis, ou seja, oligarquias que davam ordens, comandavam a política e/ou economia de uma determinada região, sempre com mão de ferro. A influência dos coronéis na política brasileira foi enorme. O termo voto de cabresto veio daí.
Costuma-se dizer que o Coronelismo ainda impera no Nordeste, citando como maiores exemplos as famílias ACM, na Bahia, e Sarney, no Maranhão. Concordo, apesar de ver esse pseudo-coronelismo diminuir, como vimos em 2006, quando a Bahia elegeu um governador petista no primeiro turno, um golpe tão duro que o patriarca da família ACM foi violar painéis do Senado em outras esferas (perdão pelo humor negro).
Pois é. Nós, gaúchos, seguindo nosso discurso de orgulho e de olhar para o próprio umbigo, nos vangloriamos de não possui esse sistema e nunca sermos submetidos a esse tipo de política.
Pois eu afirmo que HOJE em dia nós temos um coronelismo muito forte no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, o qual só tende a crescer. E esse coronelismo responde por três letrinhas: R-B-S.


O olho mágico
Se você acha que eu estou falando besteira, responda depressa: você ultimamente não chegou a ler algum destes jornais (ZH, Diário Gaúcho, Pioneiro, Diário de Santa Maria), ouviu alguma destas rádios (Gaúcha, Farroupilha, Atlântida, Itapema, Cidade), sintonizou na RBS ou na TV Com, clicou no ClicRBS ou no Hagah ou comprou algum cd da Orbeat Music? Pois todos estes veículos fazem parte de um mesmo grupo, a Rede Brasil Sul.



A casa grande do Coronel
Vejamos os números do filhote da Globo: contando Rio Grande do Sul e Santa Catarina, a empresa onde trabalha o Pederneiras contabiliza 18 emissoras de televisão; 2 tvs comunitárias, 26 emissoras de rádios (contando-se aí as filiais da Atlântida e da Itapema), 8 jornais, 2 portais de internet, 1 editora, 1 gravadora, 1 empresa de logística, 1 empresa de marketing e ações para o público jovem e 1 fundação.
É impressionante como a RBS está tomando conta da informação e do entretenimento no Rio Grande do Sul. É assustador. O monopólio sobre a informação só não é completo porque temos do outro lado o sistema Caldas Júnior que resiste, mas “entregou-se pros home” da Record. Sempre lembrando que o sonho da Record é ser a Globo. Então...
Em Santa Catarina é ainda pior. A RBS foi comprando, um por um, os maiores jornais do Estado, sempre nas grandes cidades. O último foi A Notícia, de Joinville, o último BALUARTE da imprensa que não estava atrelada aos Sirotski.
A emissora elege governadores, prefeitos, tem comentaristas que implantam o que querem em nossas cabeças, e ninguém percebe. É, viver sob o coronelismo não é fácil.
Em tempo: se você leu este texto e ficou com certa raiva da emissora que traz a sua vida na tv, faça como eu. Desconte-a aqui: http://br.youtube.com/watch?v=U9CXtycJz_g

4 de set. de 2008

Calma, ainda não fui seqüestrado por ELES

Hoje, ao badalar da meia-noite, tem post novo.

Aguarde e confie.

2 de set. de 2008

Ninguém segura a juventude do Brasil

Ainda hoje lembro da primeira vez em que alcancei o PODER. Foi em 1996, na Escola Estadual São Marcos, quando fui ALÇADO, através de vias democráticas, ao cargo de vice-líder da 5ª série. Naquele momento, a honra que eu sentia era enorme. Sentia um voto de confiança, uma responsabilidade e um orgulho como poucas vezes havia sentido. Mas algo me amedrontava profundamente: o momento de arriar a bandeira na hora cívica.
Todos os meses, na última quinta-feira, havia a HORA CÍVICA no final da aula, onde alguma turma apresentava uma poesia qualquer, extraída de um livro qualquer por um professor qualquer, não fazendo qualquer sentido. O que me deixava angustiado era o momento de descer a bandeira. As três FLÂMULAS eram descidas sempre por um professor, um representante do Grêmio Estudantil e um líder ou vice das turmas. Sempre imaginei quando seria a minha hora. Como vou fazer para descer a bandeira? E se eu não conseguir desamarrar o nó? E se eu descer a bandeira antes do hino terminar?
Chegou então o dia. Era o mês de setembro, e sob minha responsabilidade ficou a bandeira de Garibaldi. Se hoje ainda sou tímido, imagine na 5ª série. Todos os olhos da escola a meu redor, e o hino inicia. Tudo transcorre normalmente, mas durante aqueles poucos minutos, nada fazia sentido para mim a não ser descer aquele pedaço de pano de forma cuidadosa. Não sabia o que fazia ali, qual o sentido daquele momento, nem o porquê de termos uma hora cívica.

Com essa introdução toda, quero fazer a seguinte pergunta: o que nós entendemos de civismo? Nesta semana, indo para o trabalho, acompanho a sessão cívica que acontece na Avenida Rio Branco. Vejo escolas se apresentando, vejo alunos declamando poemas de amor à pátria. O que estes jovens sabem sobre a pátria? Qual o valor que aquele momento representa para eles? É um momento de exaltação do orgulho, ou apenas uma formalidade para ganhar um ponto a mais no boletim?
Fico com a segunda opção. Nós não sabemos nada sobre civismo, e as escolas tão pouco se esforçam para ensinar. Por isso, nem culpo a gurizada, afinal, eu era assim também. Patriotismo, no Brasil, só vemos durante esta semana, ou em jogos da Copa. De resto, ao invés de lutarmos por um país unido, pregamos a desigualdade, ao rotularmos gaúcho de veado, nordestino de preguiçoso, carioca de arruaceiro, paulista de obcecado pelo trabalho, etc.
Preferimos o ensino pragmático. Preferimos ensinar o que é uma equação de quarta potência a dar noções de cidadania, de conhecimento das leis. Talvez as pessoas julguem isso irrelevante. Pode ser. Ao menos, assim os monstrinhos continuam domesticados.
Não quero com esse texto pregar a exaltação e o ufanismo ao patriotismo, o qual considero outro fator de alienação. Mas quero dizer que precisamos rever valores que estão perdidos na educação. Nossos jovens (olha o idoso falando) de hoje em dia não conhecem nada sobre nosso país, a alienação impera. Precisamos urgente implantar valores de cidadania nas escolas. Do contrário, seremos para sempre meros decoradores de poesias cívicas para a apresentação no 7 de setembro.

Ou arriadores de bandeira.

Atenção senhores: todos em posição de respeito para o Hino Nacional Brasileiro

São 23h54min, está relativamente frio e eu estou exausto após uma desgastante partida de futsal praticada nesta noite, mas eu não poderia deixar este dia passar em branco. Afinal, hoje, 1º de setembro, deu-se início às comemorações da gloriosa Semana da Pátria.
Muito bem. Agora, você, caro cidadão brasileiro, me responda: o que comemora-se na Semana da Pátria? “Ah, a Independência”, dirão os sábios. Mas que independência? Qual o real sentido de independência?
Vamos partir pela análise histórica. Tudo bem, muito bonito, a independência do Brasil em relação a Portugal realmente aconteceu em 7 de setembro (até que provem o contrário), mas como vocês devem ter estudado na aula de História no Ensino Médio, tudo faz parte de um processo. Datas, para a História, são tão insignificantes quanto a cor vermelha para mim (desculpe, comparação ridícula). Mas falando sério: o menos importante de todo este processo é a data de 7 de setembro. Aliás, a pintura abaixo, que com certeza você já viu nos livros de História, e provavelmente verá no Fantástico domingo que vem (me cobrem se não aparecer), não tem nada a ver com a realidade.


Cena de alguma minisérie da Globo


Na verdade, ela foi feita muitas décadas depois, dentro da proposta republicana de criarmos heróis para o nosso povo. Ah, detalhe um tanto insignificante, a la Eduardo Bueno: Dom Pedro não estava montado num cavalo, e sim num burro. E nas margens do riacho Ipiranga, sofria com problemas estomacais.
Analisemos então o que mudou com a nossa INDEPENDÊNCIA:
-Antes de 07/09/1822, o Brasil era uma colônia oligárquica, agrícola e escravocrata;
-Depois de 07/09/1822, o Brasil virou um país oligárquico, agrícola e escravocrata.

Nenhuma estrutura de poder modificou-se. Nada saiu de seu lugar. E, pasmem, o chefe do novo país, que recém se libertou de Portugal, era um... português! Depois, eles que são burros.

Tenho muito mais para falar da independência (sic) do Brasil, mas prefiro dividir o assunto em diversos posts ao longo da semana. Até porque você verá muito verde e amarelo até o próximo domingo, muitos discursos demagógicos exaltando os heróis (?) que batalharam (?) muito para libertar o Brasil das GARRAS de Portugal. Por enquanto, procure por Eu Te Amo Meu Brasil no Emule. E dá-lhe vinheta!

Em tempo: se alguém de vocês descobrir para que serve ou qual o sentido desse tal de fogo simbólico, me avise. Prometo gratifica-los.

Ah, o mais importante de tudo: meu time ganhou, e eu fiz um gol. Efetividade (TITE, 2008) é isso aí.