2 de set. de 2008

Ninguém segura a juventude do Brasil

Ainda hoje lembro da primeira vez em que alcancei o PODER. Foi em 1996, na Escola Estadual São Marcos, quando fui ALÇADO, através de vias democráticas, ao cargo de vice-líder da 5ª série. Naquele momento, a honra que eu sentia era enorme. Sentia um voto de confiança, uma responsabilidade e um orgulho como poucas vezes havia sentido. Mas algo me amedrontava profundamente: o momento de arriar a bandeira na hora cívica.
Todos os meses, na última quinta-feira, havia a HORA CÍVICA no final da aula, onde alguma turma apresentava uma poesia qualquer, extraída de um livro qualquer por um professor qualquer, não fazendo qualquer sentido. O que me deixava angustiado era o momento de descer a bandeira. As três FLÂMULAS eram descidas sempre por um professor, um representante do Grêmio Estudantil e um líder ou vice das turmas. Sempre imaginei quando seria a minha hora. Como vou fazer para descer a bandeira? E se eu não conseguir desamarrar o nó? E se eu descer a bandeira antes do hino terminar?
Chegou então o dia. Era o mês de setembro, e sob minha responsabilidade ficou a bandeira de Garibaldi. Se hoje ainda sou tímido, imagine na 5ª série. Todos os olhos da escola a meu redor, e o hino inicia. Tudo transcorre normalmente, mas durante aqueles poucos minutos, nada fazia sentido para mim a não ser descer aquele pedaço de pano de forma cuidadosa. Não sabia o que fazia ali, qual o sentido daquele momento, nem o porquê de termos uma hora cívica.

Com essa introdução toda, quero fazer a seguinte pergunta: o que nós entendemos de civismo? Nesta semana, indo para o trabalho, acompanho a sessão cívica que acontece na Avenida Rio Branco. Vejo escolas se apresentando, vejo alunos declamando poemas de amor à pátria. O que estes jovens sabem sobre a pátria? Qual o valor que aquele momento representa para eles? É um momento de exaltação do orgulho, ou apenas uma formalidade para ganhar um ponto a mais no boletim?
Fico com a segunda opção. Nós não sabemos nada sobre civismo, e as escolas tão pouco se esforçam para ensinar. Por isso, nem culpo a gurizada, afinal, eu era assim também. Patriotismo, no Brasil, só vemos durante esta semana, ou em jogos da Copa. De resto, ao invés de lutarmos por um país unido, pregamos a desigualdade, ao rotularmos gaúcho de veado, nordestino de preguiçoso, carioca de arruaceiro, paulista de obcecado pelo trabalho, etc.
Preferimos o ensino pragmático. Preferimos ensinar o que é uma equação de quarta potência a dar noções de cidadania, de conhecimento das leis. Talvez as pessoas julguem isso irrelevante. Pode ser. Ao menos, assim os monstrinhos continuam domesticados.
Não quero com esse texto pregar a exaltação e o ufanismo ao patriotismo, o qual considero outro fator de alienação. Mas quero dizer que precisamos rever valores que estão perdidos na educação. Nossos jovens (olha o idoso falando) de hoje em dia não conhecem nada sobre nosso país, a alienação impera. Precisamos urgente implantar valores de cidadania nas escolas. Do contrário, seremos para sempre meros decoradores de poesias cívicas para a apresentação no 7 de setembro.

Ou arriadores de bandeira.

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