31 de dez. de 2009

Coisas que nós veremos em 2010:

-Muitas, mas muitas mesmo, matérias sobre a Copa do Mundo;
-Muitas, mas muitas mesmo, matérias sobre a África do Sul, principalmente sobre locais exóticos do país e da África de modo geral;
-Todo o país em verde e amarelo em junho e julho;
-Aquele velho e-mail que diz que no Brasil o ano só começa depois do Carnaval; mas como tem Copa do Mundo, só depois da Copa; mas como tem Eleições, só depois das Eleições; mas aí já é Natal...
-Pessoas que você nunca viu, pedindo seu voto;
-Pessoas garantindo a integridade de outras que você nunca viu;
-Piadas falando da chatice do horário eleitoral, sendo que na verdade deveria ser a coisa mais importante do país;
-Políticos que você só vê a cada quatro anos, aparecendo novamente na televisão;
-Pessoas dizendo que vão votar em branco ou nulo porque “político é tudo igual, não presta”;
-Escândalos políticos;
-Escândalos de subcelebridades na mídia;
-Quatorze novos “famosos”, participantes do Big Brother;
-Participantes eliminados do BBB dando entrevista no Faustão e dizendo que pretendem ser ator/atriz;
-Novos músicos surgindo e desaparecendo na mesma velocidade;
-Um axé cujo tema principal é “beijar na boca” sendo o novo hit do verão e do Carnaval;
-Fotos de mulheres na praia, todos os dias, nos jornais até o final de fevereiro;
-Novas novelas ditando a moda no Brasil;
-Estes mesmos itens que serão moda, estarão bregas três meses depois;
-Políticos falando que sua prioridade é saúde, educação e emprego;
-Se a Dilma ganhar, dezenas de matérias falando sobre a primeira mulher a governar o país;
-Muita conversa fiada;
-E, principalmente, pessoas com quem você nunca falou durante todo 2010 lhe desejando um Feliz 2011 na última semana do ano!

E a roda segue girando!

3 de nov. de 2009

Ela, sempre ela

O detalhe mais relevante de minha ida à Santa Catarina no último final de semana, além de descobrir que lá eles falam LANCHONETE ao invés de LANCHERIA, foi perceber o poder que a televisão tem sobre os demais meios de comunicação.
Bom, o leitor mais atento dirá: “E tu descobriu isso só agora, cara-pálida?”. É claro que não, mas os fatos decorridos apenas ratificaram minha opinião. Aliás, agradeço neste momento à língua portuguesa por nos oferecer uma palavra tão bonita como RATIFICAR.
Estava em Jaraguá do Sul para acompanhar a final da Liga Nacional de Futsal. Como das outras vezes em que trabalhei em quadra, me preparava para iniciar a transmissão quando veio a notícia: a televisão proibiu os profissionais de rádio de entrevistarem os jogadores antes e durante o jogo. Motivo: não atrapalhar a transmissão da televisão. A mesma situação aconteceu com os fotógrafos. Ora, estava para iniciar o jogo mais importante do ano, e nós não podíamos trabalhar plenamente. Fomos obrigados a ficar atrás da goleira durante o jogo, e bem atrás, nem no canto podíamos ficar. Além do risco de uma bolada, o que, convenhamos, vindo de uma bola de futsal não é muito saudável, tive que ficar o primeiro tempo acocorado e agachado sob os gritos de torcedores do time adversário atrás do gol, os quais reclamavam que não conseguiam assistir o jogo. Civilizadamente, gritavam “Abaixa!”, arremessando bolas de papel e ofendendo a integridade de minha querida mãezinha. Para garantir que nenhum repórter espertinho tentasse violar as “leis” impostas em cima da hora, dois seguranças de 3 metros de altura cada vigiavam nossas ações.
O mais indignante é saber que no início da competição, nas viagens longas, quando não há quase gente nos ginásios, a televisão não aparece. E quem está lá? Apenas as rádios. Ora, não é a toda-poderosa imprensa GLOBAL que diz carregar a bandeira da liberdade de imprensa, de trabalho dos profissionais da área e blábláblá? Pois esta mesma imprensa não deixa colegas trabalharem. E aí você pergunta? Bom, qual é a solução? Nenhuma. Há tempos a situação é sempre a mesma, e as rádios acabam ficando à mercê daqueles que só aparecem para lamber a cobertura da NEGA MALUCA (ns). Este é apenas um registro, de como a dita “liberdade de imprensa” acaba sendo cerceada pelos próprios profissionais do ramo. Para meu consolo, o repórter da Rádio Gaúcha que estava a meu lado também esbaforava de raiva.

15 de out. de 2009

Yes, he can

Tal qual um iraquiano que sai da porta de sua casa e vê uma bomba caindo sobre a sua cabeça, o mundo foi surpreendido no início desta semana com o anúncio do ganhador do Prêmio Nobel da Paz: Barack Obama. O presidente americano recebeu a honraria, segundo a comissão organizadora do prêmio, por seus “intensos esforços diplomáticos em prol da pacificação no planeta”. Em partes, podemos concordar, mas na minha opinião o prêmio ainda é um reflexo do “Efeito Obama” que tomou conta do planeta já faz um ano.
Tudo bem que Obama tem um trabalho árduo. Afinal, consertar todas as besteiras diplomáticas e militares que seu antecessor fez não é nada fácil. George “War” Bush conseguiu colocar os Estados Unidos num patamar de repulsa e aversão jamais alcançado anteriormente. Não é fácil carregar uma herança deixada por um presidente louco, sem neurônios e amigo íntimo da maior indústria americana, a indústria bélica. Por outro lado, dar o Nobel da Paz a um presidente americano surge como uma falta de sensatez. Como o presidente da nação mais imperialista, que estende seus tentáculos a quase todos os cantos do planeta, que com seu lixo cultural destrói as culturas de dezenas de nações, pode receber tamanha distinção?
Creio que isto pode ser visto como uma injeção de ânimo no planeta, numa proporção menor, mas semelhante àquela que vimos há um ano atrás, quando da eleição do mesmo Obama. O mundo estava mergulhado na pior crise desde 1929, e a eleição de um negro para a presidência do país mais poderoso do mundo caiu como uma luva para o planeta. Criou-se um sentimento de mudança, de novidades, algo que não víamos há muito tempo. O prêmio para Obama pode ser visto como isso, algo novo em um planeta que precisa de coisas novas.

Uma outra teoria que acabei de inventar também diz que pode ser uma forma de manter os Estados Unidos no centro. Óbvio que eles não foram parar em nenhum momento na periferia das discussões, mas a crise econômica certamente o fez perder um pouco de seu terreno, cujos lotes foram comprados por vários outros países do mundo, inclusive o nosso. Os Estados Unidos já não são mais o rei intocável dos anos 90, por isso é preciso mantê-los em alta. A eleição de Chicago para ser sede das Olimpíadas de 2016 fazia parte destes planos, mas foi frustrada pela linda, maravilhosa, desenvolvida, segura e incorruptível cidade do Rio de Janeiro.
Por fim, também não se pode mais considerar o Nobel como um “prêmio verdade absoluta”, pois a política e os interésses (abraço, Brizola) estiveram por trás de boa parte das premiações.
Mas o fato é que Obama é o Nobel da Paz e as bombas continuam caindo sobre Iraque e Afeganistão, as tropas continuam nestes países, as bases estadounidenses continuam na Colômbia, no leste da Ásia e em dezenas de nações “independentes”. Mas, para que esperar coerência? Afinal, não foi Nobel quem inventou a dinamite?

8 de out. de 2009

4 de out. de 2009

Mercedes Sosa.

Alguns arrependimentos marcam para o resto da vida. Muitas vezes você para e pensa: porque não fiz aquilo? Entretanto, é possível que novas oportunidades surjam e você consiga livrar-se deste arrependimento.
Porém, deste eu não conseguirei me livrar. Ano passado, Mercedes Sosa veio a Porto Alegre. Eu sabia do show, poderia ter tentado uma maneira de conseguir o ingresso. Porém, por pura preguiça ou por achar o ingresso “muito caro”, resolvi ficar em casa, mesmo sabendo que talvez seria a última oportunidade de ver “La Negra” ao vivo. E era mesmo.
Hoje, calou-se Mercedes Sosa. Calou-se a voz dos pobres, calou-se a voz daqueles que não tinham voz. Calou-se a maior cantora da América Latina de todos os tempos. Alguém por quem você chora, mesmo sem nunca ter conhecido.
Não é necessário escrever um post longo cheio de palavras de ternura para homenagea-la. Neste momento, o silêncio e o pensamento da falta que La Negra fará entre nós é a maior homenagem.

Duerme, Mercedes Sosa.

30 de set. de 2009

Sobre morros, cartuchos e esportes

Rági tem sete anos e vive num morro carioca, quase sempre descalço. Alterna sua rotina entre a casa da avó, a escolinha e as brincadeiras com os velhos cartuchos que os donos do morro deixam por aí. Algumas de suas vizinhas já começam a pendurar dentro dos barracos alguns enfeites de Natal, pois dezembro está chegando. A maioria dos enfeites são velhos, provenientes das casas das “patroas” onde as mulheres passam o dia fazendo faxina. Segundo sua mãe, Rági tem seu nome inspirado num personagem de novela, mas o escrivão do cartório fez questão de abrasileirar. É o caçula de oito filhos. Sua irmã mais velha, Sasha, já fugiu de casa fazem três anos. Para ele, disseram que foi trabalhar na Zona Sul, mas ele sabe que ela continua no morro, mais precisamente lá no alto.
Rági lembra daquele movimentado mês de agosto. Na escolinha, todos os dias eles tinham trabalhos referentes a esportes, a desenhar atletas. Às quatro da tarde, depois do lanche (a refeição mais completa do dia), sentava em frente à televisão de 14 polegadas da escola (a de 29 havia sido roubada no início do ano) e assistia, junto com seus colegas, ao movimento que acontecia na mesma cidade em que ele vivia, mas numa realidade totalmente alheia à sua. Lembra também daquele dia em que três homens bem altos, usando camisetas com as cores azul e vermelha subiram no morro, acenaram, passaram a mão na cabeça de algumas crianças (Rági não teve esta sorte) e foram embora. Foi o único contato que ele teve com aquela gente estranha que viveu na sua cidade naquele ensolarado agosto.
Lembra também das palavras da sua mãe (nunca conheceu o pai) no início daquele ano: “Filho, tu vai ver como a nossa vida vai mudar esse ano, o pessoal da televisão ta falando isso”.
Mas ele já estava em novembro e um dia foi com os amigos da escolinha numa excursão pelo centro. Passaram em frente àquele estádio novo que haviam construído, mas que depois da festa não havia sediado quase nenhum evento. Ouviu duas professoras comentando que uma delas havia pensado em comprar um apartamento de uma tal de “Vila”, mas desistiu depois de ler no jornal que muitos apartamentos apresentavam rachaduras, resultado da construção apressada para que ficassem prontos a tempo. Visitando os lugares que viu na televisão lá em agosto, ficou sabendo que a Prefeitura havia aberto inscrições para escolinhas de basquete e handebol, mas sua mãe disse que não tinha dinheiro para pagar a inscrição e nem o uniforme.
Voltou para casa um pouco antes do previsto, pois estava chovendo e tinha medo que acontecesse a ele o que aconteceu com dois de seus coleguinhas, que morreram soterrados no morro vizinho no último deslizamento. Ao chegar em casa, sua mãe lhe informou que não haveria aula no dia seguinte, pois ela foi informada em seu celular que um aluno morreu vítima de bala perdida. Além disso, já eram 19 horas e depois desse horário os donos do morro não deixam mais ninguém circular livremente por ali.
E assim sua vida seguia. Amanhã brincará com dois cartuchos novos que encontrou no caminho de casa. Sonha em ser dono do morro quando crescer. Vai dormir com fome porque não houve janta naquela noite, pois sua mãe não tinha dinheiro. Mas dorme feliz, porque aquele estádio era mesmo muito bonito, e aquilo existia na sua cidade.

Rio de Janeiro, novembro de 2016.

15 de set. de 2009

As xerocadoras e a imortalidade

Vou abrir este post contando uma piada para vocês: Collor é o novo Imortal da Academia Alagoana de Letras. Quer que essa piada fique mais engraçada? Ele foi eleito mesmo sem ter vendido um único livro ao público. Quer chorar agora? É tudo verdade.
Pois é. Fernando Collor de Melo solicitou sua inclusão na Academia usando como argumentos publicações impressas na Gráfica do Senado. São discursos e artigos impressos por gráficas oficiais, sendo que nenhum foi colocado à venda. Dos sete materiais entregues à academia, inclusive, seis eram cópias, e apenas um, original.

É muita imortalidade

Isto mostra o quanto as pessoas estão carentes de novas lideranças, de “novos Imortais”, de cabeças realmente pensantes. A notícia acima surge como ridícula, mais ridícula ainda se pensarmos que integrantes de Academias de Letras, teoricamente, são pessoas letradas, com opinião formada e dotadas de muita informação. Mas não é difícil de imaginar como conseguem fazer tal façanha, uma vez que a família Collor de Melo está para Alagoas como a família ACM está (ou estava?) para a Bahia. Além disso, dominam praticamente todos os meios de comunicação do estado, mais ou menos como acontece com uma tal de família Sirotski em outro estado brasileiro.
Precisamos urgentemente de novos nomes, de pessoas que pensem diferente, de alternativas, de quebras de paradigmas. Do contrário, estaremos condenados eternamente a notícias ridículas como essa aí de cima, que mais parecem piadas.
Mas quem sabe a situação não esteja mudando, não é mesmo? Afinal, o povo brasileiro está crescendo culturalmente. Já está falando expressões de outros idiomas, como “are baba” e “auspicioso”.

7 de set. de 2009

Toca Victor e Leo! (ou O Rei está morto, viva o Rei!)

Vinte anos e dezesseis dias sem Raul Seixas. Eu digo “sem”, mas claramente não é o mesmo ‘sem’ usado quando, por descuido, esquecemos algum badulaque em casa. Recentemente, Raul nos deixou uma pequena surpresa – a canção Gospel, com a letra integral, na época censurada. Pois bem. Domingo, Fantástico na TV, Alessandro conferindo na sala. De repente, com todo o dinamismo do sensacionalismo comum da TV brasileira, aquele anúncio de uma música inédita do Raul e um trechinho da música - Por que o sol nasceu de novo e não amanheceu?, tchu tchu tchu. Estarreci. Meu irmão, que estava comigo na sala, presenciou cabriolas de um estarrecido. Não podia acreditar. A música não era inédita! Fora gravada, décadas antes, em 1974, pela Sônia Santos, especialmente para a trilha da novela O Rebu da Rede Globo, composta por Raul Seixas e Paulo Coelho. Tal era o motivo do estarrecido.
Quem pensa que fui conferir esta história mal contada, levante a mão. Fui conferir como bom raulseixista. Realmente, a música não era inédita. Fora gravada por alguns covers, inclusive. Mas a interpretação e a letra eram, praticamente. Quase tudo inédito, salvo aquilo que, na época, a censura deixou passar. Pela primeira vez, Gospel (este é seu nome original) ganhou seu espaço na discografia oficial do baiano, apresentou-se ao século XXI com arranjos tão sublimes quanto merecidos. Que boa surpresa, a do Raul! Quem quiser conferir, http://www.youtube.com/watch?v=PTWdpW648hE está aí o endereço no YouTube.
A letra é um questionamento do início ao fim. Poucas pessoas lembram, mas na infância, o Livro dos Porquês era um dos seus favoritos.
Então, parece que mais um raulseixista endeusa Raul Santos Seixas, nascido em 28 de junho de 1945, falecido em 21 de agosto de 1989. Que nada! Enquanto formos simples admiradores da obra de um artista genial, que foi realmente, é comum tornar um homem deus. Também fi-lo há algum tempo. Porém, após algumas tempestades, o conúbio é desfeito. Permanece o fã, cria-se o Homem-Estrela. Porque todo homem e toda mulher é uma estrela, é o que diz a Sociedade Alternativa. Não posso dizer que Raul não queria fãs, é claro que queria, era músico, artista, assim vivia. Mas, antes disso, que fosse integral, esta humanidade. A fim de que cessassem os endeusamentos. Raul queria que nos reconhecêssemos como Homens, terrenos, construtores do milagre de poder andar sobre a Terra, nossa casa. Que eu fosse Aleísta do meu Aleísmo, que o João fosse Joãoísta do seu Joãoísmo, e assim substantivamente (como diria o Chaves). Claro, com bastante calma nesta hora, cuidado com certos egoísmos escondidos – que comandam – sob as boas intenções. E, para tanto, é preciso questionar-se. Carpir o que aparenta ser a nossa própria essência. Podemos ser a causa dos problemas nossos! Que me arguam os provincianos.
Não faço destas as palavras do próprio Raul, não sou seu representante terreno, nem hei de ser, nem quero, pelo bem da sua mensagem – que não tem valor político ou científico, como querem alguns. Fico feliz por este mundo não ser apenas política e ciência! Raul era um egoísta, um anarquista. Mas isto fica para outra oportunidade.

Certo, gosto de uma boa troca de idéias (ainda não estou de acordo com o acordo ortográfico, mas logo estarei!), portanto, caso alguém queira conversar, escreva-me! manica_439@hotmail.com, é meu MSN e e-mail.

Você pode não estar dentro da Sociedade Alternativa, mas a Sociedade Alternativa sempre esteve dentro de você! Viva, Viva!



Este texto é uma belíssima contribuição do chato e revolucionário Alessandro Mânica, dando início ao projeto de expansão editorial dos chatos pelo mundo.

31 de ago. de 2009

Kaká, jogamos no mesmo time

Qual a semelhança entre eu e Kaká? “Nenhuma”, dirá a célebre leitora com um pôster do RENASCER MAN grudado na parede. Pois existe uma sim: ambos jogamos futebol. Por mais paradoxal que possa parecer, ambos fazem a mesma coisa, mas de forma totalmente diferente. E é aí que entra a teoria que inventei há cinco minutos atrás de que existem dois tipos de futebol.
O primeiro é o futebol circo, aquele que atrai multidões para um estádio de futebol, aquele que aliena, que cega, mas que também apaixona, cria sentimentos e todas essas coisas que Nélson Rodrigues falava em suas crônicas.
Na semana passada, cinco homens armados invadiram o vestiário da Portuguesa, equipe que está na segunda divisão do futebol brasileiro. O motivo: o time havia perdido uma partida em casa e os homens foram lá tirar satisfação. No dia seguinte, um outro jogador, acho que o Rogério Ceni, disse: “Por que não vão fazer isso lá no Congresso?”. Confesso que foi a primeira vez que respeitei esse cara. A situação do Senado e da Câmara dos Deputados está tão podre que até me desanimo a escrever um post sobre isso (mas o farei nos próximos dias). Já falei várias vezes neste blog e volto a repetir: no dia em que o brasileiro tiver tanta capacidade de revolta com o Congresso como tem para com o técnico do seu time, o Brasil vai realmente dar seu grande salto. Sonho com o dia em que o povo deste país vai conhecer tanto o candidato em que vai votar como conhece o lateral esquerdo reserva do seu time. Nesse ponto, ainda temos muito a aprender com nossos vizinhos argentinos, que, se por um lado são tão doentes como nós por futebol, por outro tem uma capacidade de mobilização política que está a anos-luz de nós, os pentacampeões do mundo.

Por outro lado, existe o meu futebol. Aquele que faz as pessoas acordarem cedo no domingo de manhã para irem até o interior e enfrentar uma temperatura de 30º para correr atrás de uma bola, tendo como recompensa disso apenas uma muy valorosa costela gorda e cheia de colesterol no almoço. Aquele futebol que faz com que o cara dê um carrinho violento dentro da área sem grama, esfolando toda a sua perna e deixando-a imobilizada por um bom tempo. Aquele futebol que, ao marcar um gol, não te faz correr para a arquibancada, pois não há ninguém lá, mas sim para abraçar aquele bando de amigos que irão te pagar uma cerveja logo após o jogo.

E qual a conclusão que se toma disso? A princípio, nenhuma, pois ainda estou criando a teoria, e, afinal, esse é um papo chato mesmo. Enquanto isso, só nos resta continuar a gastar dinheiro para ir ao circo.

Ou ao interior.

24 de ago. de 2009

De volta para o futuro

Em algum lugar do além, Che, Marx e Bolívar trocam ideias enquanto fumam um charuto.

“-No está fácil esta juventud”, diz Che.
“-No quieren saber de nada”, retruca Bolívar
“-Ales gut”, completa Marx.
-Ales gut??
-Sim, falei no Manifesto ainda, que esses proletários só querem saber de se tornar burgueses.
-Pois é, mas essa alienação ta num nível que me assusta... Nem as selvas da Bolívia eram tão perigosas!
-Pobre Che... Isso que tu não conheceu a família real espanhola... Aquilo sim é que era perigoso!
-Gut, mas o que podemos fazer?
-Huum... Endurecer, pero sin perder la ternura?
-Not, temos que recrutar o maior número de proletários possíveis.
-E de que forma?
-Aqueles negócios chamados blogs.. Tem um monte deles, mas até nesses estamos perdendo terreno... Viram quantos blogs estão fechando?
-Hay uno que eu achei legal.
-Qual?
-Esse Papos Chatos aqui ó. Quase ninguém lê, e tá desativado.
-Deve ser hecho por crianças.
-Nem fala em crianças, que desde que aquele Michael chegou por aqui...
-Mas olha só, tava lendo os comentários desse blog... Tem leitores interessantes...
-Pois é, o pessoal que comenta lá costuma contribuir muito.
-Ouvi dizer que o dono vai reativar o blog no dia 24 de agosto.
-Mas porque logo no dia 24? Isso é prato cheio pros amigos corneteiros!
-É que hoje faz um ano que ele inaugurou o blog. Postou 52 vezes, até parar temporariamente em abril deste año.
-Ah bom. Pensei que fosse porque hoje fazem 55 anos que aquele brasileño se matou.
-Quem?
-Aquele, que ta toda hora enchendo o nosso saco e dizendo “Saí da vida para entrar na história e blá blá blá”..
-Esses estadistas e suas frases feitas...
-Pois é.
-Bom, que bom que aquele blog vai voltar! Assim vamos ter pessoas inteligentes lendo e saindo da alienación de hoy em dia.
-Tomara que mais e mais pessoas apareçam por lá.
-E que aqueles leitores fiéis voltem.
-E contribuam cada vez más.
-Pero sin perder la ternura.
-Claro.

-Bom, vamos atrás de mais sitios interessantes, deve estar cheio na internet!
-Achei um site interessante aqui. Parece hospedar alguns blogs legais.
-Qual é?
-Chama-se G1, e tem notícias de...
-Ah Marx, vai ver se o Engels ta na esquina, vai.

29 de abr. de 2009

Hasta siempre

Pensei várias vezes se eu deveria ou não escrever este texto. Consultei alguns amigos, e todo dia, pela manhã, olhava para este blog. O recanto de palavras, abandonado. E por pura culpa minha. Pela falta de empenho, talvez, pela falta de ânimo, quem sabe. Não sei. O fato é que não atravesso meu momento mais, digamos, “criativo”.
Não sei se é a melhor decisão, mas é a que eu estou tomando neste momento: quero dizer a vocês amigos que, de forma oficial, estou parando de escrever neste blog, ao menos por enquanto.
O abandono destas últimas semanas, um desrespeito àqueles que todo dia acessavam este espaço, já denunciava o momento. Resolvi que era hora de parar um pouco, arejar as ideias, enfim. Pensar.
Pode ser (espero) que esta decisão seja temporária. Exatamente por isso, não vou deletar o blog. Seria muito egoísmo de minha parte. O Papos Chatos continuará aqui, para que possamos apreciar os 52 posts desde agosto do ano passado, ou para seguir os links que estão no lado esquerdo, os quais eu recomendo todos.
Quando eu voltar a postar, avisarei a todos vocês. Por enquanto, não veremos novas palavras por aqui. Elas estão um pouco restritas, no momento.

Sejamos chatos, sempre.

8 de abr. de 2009

O creme, as flores e as palavras

É, vocês pensam que é fácil escrever para um blog. Que basta abrir o Word e em cinco minutos o texto está lá, pronto? Como eu queria que fosse assim. Se fosse desse jeito, eu não teria deixado vocês há mais de vinte dias sem um único post. Acontece que às vezes atravessam-se momentos na vida em que a inspiração não surge, de nenhum lado. Ou pior: você está tão inspirado em algo que não consegue inspirar-se para nenhuma outra. Difícil de entender? É, eu sei.
O fato é que este é o primeiro post desde a metade do mês de março. Muitas coisas acontecem, muitas coisas nós aguardamos, e isso nos deixa um pouco desanimados, por vezes. Mas nada como a sua própria formatura, de vez em quando, para dar aquele ânimo que por vezes parece estar perdido em alguma gaveta de sua casa.
Queria, neste post, apenas agradecer à todos que estiveram comigo neste último sábado, e também àqueles que gostariam de estar, mas não puderam. É bom poder contar com amigos diferenciados, especiais, com la crème, como certas pessoas (entre elas muitas das que lêem este blog) são para mim.
Voltaremos a postar, sim, é meu dever, pois seria muito egoísmo de minha parte deixar tudo para o interior, sem expelir as palavras que brotam. E que aFloram.

Por ora, é isso.

17 de mar. de 2009

Raul e o início

Raul tinha apenas dois anos quando o avião em que viajava com seus pais caiu em plena selva amazônica. O bebê foi o único sobrevivente, por algum desses motivos que só as histórias fictícias podem explicar. Pois o fato é que Raul foi criado pelos índios da tribo Comunis, que nunca havia entrado em contato com o homem branco. As atividades da tribo consistiam em caçar, pescar e recolher frutas. Tudo o que era caçado, pescado e recolhido, diariamente, era colocado numa construção que ficava no centro da aldeia. As sobras eram aproveitadas no dia seguinte, e tudo pertencia a todos. A liderança, quase que de forma natural, era exercida pela pessoa mais velha, fosse homem ou fosse mulher.
Um dia, algumas semanas depois de completar 10 anos, Raul avistou vultos, ao longe, no Rio Anarquisis, que passava pelo centro da tribo, mas pensou tratar-se de algum animal estranho, ou alguma das muitas lendas que habitavam o cotidiano das palavras proferidas pelos membros mais experientes dos Comunis.
No dia seguinte, porém, no meio da manhã, enquanto pescava, ouviu um forte estrondo, algo que nunca havia sentido antes. Ao levantar a cabeça, viu que os vultos que ele havia visto no dia anterior estavam chegando, de barco, próximo à tribo, e que o estrondo vinha de um cano de ferro que um dos homens brancos carregava. Dois de seus companheiros haviam tombado ao chão, ensanguentados. Os Comunis corriam de um lado para outro, em desespero, sem entender o porquê daqueles “deuses” estarem agindo dessa maneira. Raul, entretanto, permanecia imóvel, talvez porque seu interior, de certa forma, já havia estado no meio daquela tecnologia.
Por um desses motivos que só a genética (e, claro, as histórias de ficção) podem explicar, Raul cresceu com a capacidade de entender o português. Um dos homens que estava no barco e havia atirado loucamente para todos os lados, disse:
-Então a lenda realmente é verdade! O filho da Família Burgo sobreviveu! Não é à toa que ninguém encontrou o seu corpo há oito anos atrás!
Um outro homem, que carregava uma grande cruz em seu peito, disse:
-Venha conosco, garoto. Vamos tirar-lhe deste estado de barbárie para lhe inserir na civilização.
Raul, sem saber exatamente o que fazer, deixou-se levar pelos homens, até porque os Comunis que não tinham sido mortos haviam fugido floresta adentro.
O garoto iria conhecer a “civilização”, iria conhecer o mundo, e nunca mais veria os Comunis. Os outros que estavam no barco não entendiam por que o garoto continuava o tempo todo, dentro do barco, virando-se para trás e com lágrimas nos olhos.


Este é o primeiro capítulo da saga de Raul, o primeiro personagem criado por este blog. A história de Raul, seus questionamentos e suas dúvidas acerca do mundo vocês irão conhecendo aos poucos, em meio às postagens normais do blog.
E viva a sociedade alternativa.

11 de mar. de 2009

Hasta lunes

Na busca de inspiração, de novas idéias e de uma pele um pouco menos branca (mentira), este que vos fala parte em férias por um longo e quase eterno período de cinco dias. Levo comigo livros de Gabriel García Márquez, músicas do Raul e dos Beatles e todos vocês em meu coração (oh, que bonito!).
Enquanto isso, gostaria de receber sugestões dos nobres leitores sobres posts futuros. Como está o blog? A linha que está sendo seguida nos textos está legal, ou querem alguma mudança no modo de escrever? Deixem suas sugestões nos comentários deste post ou, se tem alguma sugestão que gostariam de me deixar de modo “particular”, escrevam para o jp_deluca@yahoo.com.br. Sério, escrevam mesmo. Quero muito receber sugestões.
E para não deixa-los abandonados nos próximos dias, eu vos brindo, para quem ainda não viu, com um dos momentos mais geniais do jornalismo brasileiro: o Direito de Resposta de Leonel Brizola à Rede Globo, em 1994:

http://www.youtube.com/watch?v=ObW0kYAXh-8

3 de mar. de 2009

Não invistam no esporte

Tá, eu prometo que em breve eu coloco crônicas mais suaves, sobre a vida cotidiana e talz. Mas deixem eu fazer só mais um post crítico, ok?
Minha proposta aos empresários é: vamos deixar de investir no esporte, pois não dá retorno (atenção: estou fazendo esta análise sob a ótica de um empresário). Afinal, o que fazer quando você dá milhões de reais para patrocinar um time e o maior conglomerado midiático do país te boicota?
Como muitos dos leitores deste blog não acompanham de perto o esporte profissional, vou explicar para vocês do que se trata. É o seguinte: as Organizações Globo (a TV, principalmente), tem uma norma interna que PROÍBE a divulgação do nome de alguma empresa na equipe, substituindo-o pelo nome da cidade. O vôlei é o exemplo mais claro. As duas equipes de vôlei feminino mais tradicionais e que sempre disputam as finais no Brasil são a Rexona e a Finasa, mas a Globo as apresenta como Rio de Janeiro e Osasco, respectivamente. O atual campeão brasileiro de vôlei masculino, Cimed, virou Florianópolis. O futsal é um exemplo clássico: a Malwee virou Jaraguá, John Deere virou Horizontina, Cortiana virou Farroupilha, etc.
A RBS, afiliada da Globo nos dois estados mais ao sul do Brasil, mantinha os nomes “verdadeiros”, mas a Globo baixou a norma que agora é lei para todas as suas afiliadas e também para as redes de tv a cabo, como Sportv e Premiere, por exemplo. O estopim, para os gaúchos, foi no Campeonato Gaúcho de Futebol desse ano, quando a Ulbra, “misteriosamente”, virou Canoas. A direção da universidade ficou furiosa com a nova política “global”, emitindo inclusive nota de repúdio no site, mas é aquilo né. Não pagou, esquece.
E o mais irônico dessa história toda é que a Globo e seus Galvões Buenos da vida, a cada Olimpíada que chega, faz uma campanha nacional clamando aos empresários para que invistam no esporte, quando ela própria boicota o nome destas empresas.

Sábado à tarde eu estava justamente dando início a este texto quando o sensacional blog Impedimento (lincado no canto esquerdo deste blog) publicou uma fantástica crônica sobre o assunto, de autoria de Luis Felipe dos Santos, a qual eu reproduzo na íntegra abaixo. Leiam toda, por favor. Vale muito a pena.
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O dia em que o Quilmes virou o time do Pato Donald

Grande alvoroço se instalou no bairro de Jacarepaguá com a notícia divulgada no final de 2012. Não, a Fifa não desistiu da Copa do Mundo, nem o governo resolveu acabar com a renovação automática das concessões. A questão é que o Quilmes, clube mais antigo da Argentina, derrotou o Vélez Sarsfield e tornou-se o quarto classificado argentino para a competição, disputando uma vaga na Pré-Libertadores.
Não era exatamente uma novidade, pois o Quilmes disputara uma Libertadores antes, protagonizando o lamentável episódio Desábato. O problema previsto por um executivo mais atento era o nome que os jornalistas da empresa global deveriam dar ao clube. Vigorava desde 2007 a ordem de que clubes com nomes de empresas deveriam ser chamados apenas pelo nome das suas cidades. Malwee virou Jaraguá, Cimed virou Florianópolis, Ulbra virou Canoas. Ninguém entendeu lhufas, protestos aconteceram aos montes, mas a empresa seguiu irredutível na sua cruzada contra o merchandising.
Só que em 2013, a cerveja Quilmes era uma marca bastante conhecida entre as bebidas importadas e nacionais. O mercado das cervejas de litro estava se expandindo e a Quilmes era uma das opções mais aceitas. Um dos executivos achou que, por ser a empresa argentina, nada demais aconteceria.

Qual o quê. O departamento de marketing da emissora foi informado pelos espiões de sempre. Quilmes não era um nome aceitável. E o contrato milionário com a outra distribuidora, como ficava? O departamento reuniu-se com o jornalismo para decidir renomear o clube.
- Pois bem, ficamos sabendo que o Quilmes jogará a Libertadores. A partir de agora, o clube será chamado pelo nome da sua cidade.
- Buenos Aires?
- Isso.
Correram os jornalistas para atualizar suas pautas. No dia seguinte, choveram emails para a empresa. Ora, não havia um clube chamado Buenos Aires. Ora, o clube que era denominado Buenos Aires era o Quilmes. Ora, o Quilmes NÃO FICAVA em Buenos Aires!
- Como assim? - perguntou o big boss.
- Chefe, o Quilmes é da província de Buenos Aires, apenas. Fica na cidade de Quilmes.
- Droga! Eles já se classificaram para a fase de grupos?
- Ainda não, precisam ganhar do Estudiantes de Mérida em casa.
- Hm. Então ignorem esse jogo. Vamos esperar o resultado.
Assim cumpriram os jornalistas. Não se viu na TV ou na internet qualquer referência ao jogo, que acabou com vitória de 5×1 do Quilmes em casa. Saiu o sorteio da segunda fase e cumpriu-se o horror: O Quilmes, por ser o pior argentino no ranking da Conmebol, não foi cabeça de chave. Acabou caindo no mesmo grupo do Flamengo. DO FLAMENGO!
Convocada reunião urgente.
- Ok, temos que decidir que nomes vamos dar ao Quilmes. Não pode ser Buenos Aires por que a cidade é Quilmes. Que outras opções temos?
- Bom - disse um jornalista entendido - o nome é Quilmes Atlético Clube, foi fundado em 1887, o apelido é
El Cervecero, o estádio é o Centenário.
- Já temos três opções. Atlético Clube,
Cervecero e Centenário.
- Nenhuma possibilidade de chamar pelo nome certo?
- Temos que manter a coerência.
- Tudo bem - disse o chefe de jornalismo - eu sugiro Atlético Clube.
Cervecero pode causar problemas com a legislação que impede propagandas de bebidas alcoólicas, e nunca chamamos um time pelo nome do seu estádio.
- Que assim seja - disse o executivo, mais aliviado.
Assim foram ao campo Flamengo X Atlético Clube. Não foi muito complicado, embora os protestos e as gozações das outras emissoras. O problema aconteceu no returno do grupo. O Flamengo enfrentava o Atlético Clube na última rodada do returno, disputando classificação, jogo da TV. Numa quarta-feira - no domingo anterior, jogava o Brasileiro contra o Atlético Mineiro; no domingo posterior, o Atlético Paranaense.
No domingo, o executivo chefe chamou uma reunião extraordinária com o jornalista entendido e o chefe de jornalismo. Quando todos chegaram, reproduziu várias vezes teipes diversos dos programas da emissora.

“O Flamengo está preparado para enfrentar o Atlético Mineiro, mas sem deixar de pensar no Atlético Clube e no Atlético Paranaense”
“O treinador do Flamengo mostrou que jogará com reservas para enfrentar o Atlético.
- Vamos com reservas para enfrentar o Atlético, pois precisamos de força total para jogar contra o Atlético”
“O Flamengo está certo ao priorizar o Brasileiro. Vamos ver como vão se portar os jovens contra o Atlético. A idéia mesmo é vencer o outro Atlético, o Clube”

Entre outras tantas.
- Vocês conseguiram entender quem enfrenta quem?
- Deveriam diferenciar os Atléticos Mineiro, Clube e Paranaense - disse o chefe de jornalismo.
- Isso é evidente. Só que ninguém consegue entender nada. Chovem emails para a redação perguntando qual dos três atléticos é o clube.
- Mas não são todos clubes? - perguntou o jornalista entendido, louco para queimar o chefe.
- EXATAMENTE! Temos que mudar imediatamente esse nome. Tudo indica que o Quilmes vai passar para a próxima fase. Ainda dá tempo.
- Bom, opções não temos muitas…o departamento jurídico certamente vetará o “cervejeiro”.
- Dá para tentar!
Duas horas depois, chega um parecer do advogado de plantão.
“Considerando (…) ponderando (…) observamos que a denominação “cervejeiro” para uma equipe de futebol, além do inusitado, contém uma possível infração legal caso o time dispute jogos a ser transmitidos antes das 22h. É o parecer”
Não dava mesmo. Ficaram os três analisando por mais uma hora a história do Quilmes e todas as suas características. Chegaram na camiseta, que continha o distintivo do clube.


- Olha ali - disse o executivo - podemos dizer o que existe no distintivo.
- Aquilo é um QAC.
- Então. Vamos chamá-lo assim.
Primeiro jogo da segunda fase. Como estava previsto, o Quilmes (QAC) enfrentou novamente o Flamengo. Dada a importância da partida, escalaram o melhor narrador da empresa. Quando chegou o roteiro, imediatamente ele protestou.
- O nome do time é esse mesmo?
- Ordens da direção… - respondeu o contínuo.
- Produtor! Que diabo de time é esse? Não era “Atlético Clube”?
- Não é mais, segundo a direção determinou. Parece que é para não confundir com os outros Atléticos.
- Tá, e daí eu vou chamar o time de QUAC? Por acaso o treinador é o Donald e o dono é o Tio Patinhas?
- Não é QUAC, é CAC. Q sem U é pronunciado como C, segundo o nosso revisor.
- Ah, tá bom.
Começou o jogo no Maracanã. É claro que o narrador chamou o time de QUAC o tempo todo, enfrentando as ordens do revisor. O que ninguém imaginava era a proporção disso. Em fóruns, no Orkut, nos blogs, nas emissoras concorrentes e nas rádios, o jogo do Flamengo contra o “QUAC”, o time de “patos”, virou a principal piada da semana. O Flamengo conseguiu um resultado pouco confortável, 1×0 - no dia seguinte, a interjeição animal utilizada pelo narrador já era capa do Olé.
“Brasileiros acham que Flamengo ganhou do time do Pato Donald” - era a manchete.
É claro que os hermanos se ofenderam. Para a quarta-feira seguinte, armaram uma guerra no estádio Centenário. Vestidos com máscaras de patos, levando patos para a arquibancada, cuspindo, ofendendo e jogando foguetes nos brasileiros, os argentinos reagiram à sua maneira. O narrador escalado foi outro, que dessa vez não deixou escapar a ordem do revisor. Claro que a dificuldade fonética mudou o nome da equipe para CÁQUI, a cor, e alguma interjeição patolina acabou escapando em meio à transmissão.
O Flamengo não resistiu à guerra. Perdeu por 2×0 - o Quilmes tinha um time bom - e aumentou a piada a níveis estratosféricos. No estádio, os argentinos inventaram um novo canto:
Soy de la banda del cervecero
El decano de Argentina
Se nosotros somos patos
Ustedes son gallinas

Para horror dos executivos de Jacarepaguá, o próximo adversário do Quilmes na Libertadores era o Botafogo - e o mesmo narrador, inventor de todo o problema, seria escalado para o Engenhão. Mais uma vez, os erros foram repetidos, levando os produtores à loucura.
“Lá vem o QUAC com a bola…”
“O QUAC está fazendo duas linhas de quatro”
“gooooooooooooooooooooooooooool do QUAC”
O jogo acabou empatado em 1×1. No vestiário argentino, o treinador do Botafogo praticava avançadas técnicas de hipnose em um centroavante quando ouviu um estampido na porta. Era o executivo da grande rede de televisão.
- Só vim dizer uma coisa. GANHEM ESSA MERDA. Ganhem desse time desgraçado. Eu não vou ter que agüentar uma final de Libertadores sem saber dizer o nome do time. Não vou. Ganhem desses filhos da puta. Pelo Brasil!
Com a mesma celeuma armada em campo, o Botafogo foi heróico e conseguiu uma vitória por 1×0. O QUAC poderia ser esquecido para sempre.
É claro que o apelido pegou. Além de “los cerveceros”, os torcedores do Quilmes começaram a ser chamados de “los patos”, e a direção do clube resolveu trocar o distintivo no ano seguinte - usando a inscrição “Quilmes” inteira, não apenas QAC. O caso ganhou repercussão mundial e foi citado em tom de chacota por várias revistas internacionais.
Aquele executivo foi mantido, por seguir à risca a coerência editorial da empresa. O problema é que logo depois, começou a Copa Sul-Americana, onde jogava o Sporting Cristal - patrocinado pela cervejaria peruana de mesmo nome. Foi marcada outra reunião extraordinária.

Luis Felipe dos Santos.

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E o mais triste disso tudo é ter a certeza quase absoluta de que não vai adiantar nada a reclamação das empresas torcedores, enfim. E o esporte brasileiro, já escasso em termos de patrocínio, vai perdendo cada vez mais estes poucos investidores.
Por isso, sugiro: não invistam em esporte. Invistam em algo mais rentável como, por exemplo, o meu mestrado. Prometo que não faço boicote algum, e divulgo o nome da empresa por completo. Se for uma empresa de ônibus então, já tenho até o uniforme.

26 de fev. de 2009

Pequeno texto sobre a esperança (ou a falta dela)

Nem só de Carnaval vive o Rio Grande do Sul em fevereiro de 2009. Além de promover festas onde ninguém é de ninguém, aumentar o faturamento da Skol, entre outras atividades, nosso estado também ocupa-se em destruir o único movimento social que resta no país.
Como vocês já devem ter ouvido falar, o Ministério Público ordenou o fechamento das escolas itinerantes do MST. Estas escolas são montadas nos acampamentos dos sem-terra. Lá, além de matérias normais, os alunos aprendem sociologia, filosofia, e principalmente, noções de cooperativismo, vida em sociedade, igualdade, etc. O Superior Tribunal de Justiça ordenou o fechamento imediato destas escolas porque nelas as crianças estariam aprendendo conceitos radicais e sofrendo “lavagem cerebral” das idéias do MST, que, para a grande mídia, são: roubar, invadir, quebrar e destruir, não necessariamente nesta ordem
A escola itinerante do MST em São Gabriel já foi fechada. As crianças que estudavam lá serão encaminhadas para escolas estaduais, ou seja, entrarão em processo de alienação e dentro de alguns poucos anos não irão querer viver nos acampamentos, sentirão vergonha de usar o boné do MST e abandonarão os pais para ir trabalhar em alguma metalúrgica ganhando R$ 550,00 por mês. A próxima deverá ser a escola de Veranópolis
Pois é. O Rio Grande do Sul, logo ele, o estado dito mais culto-politizado-educado do país está acabando com os movimentos sociais, está sucateando a educação, enfim. Nossa governadora está conseguindo tudo a que se propôs. Aliás, nem seu marido a agüenta mais, tanto que pediu o divórcio.
A falta de esperança e o desânimo são tão grandes que não dá mais vontade de escrever.


Ainda bem que acredito nas Flores.

10 de fev. de 2009

A taça do Oscar não é nossa

No dia 22 de fevereiro, acontece mais uma edição do Oscar. Sei que a maioria dos que lêem (oi, Reforma Ortográfica) este blog não usam este prêmio como parâmetro na hora de escolher um filme, afinal de contas existem muito mais coisas entre o cinema e aquele tapete vermelho do sonha a nossa vã filosofia. Da minha lista de filmes favoritos (que encontra-se anexada no meu orkut), a grande maioria não chegou nem perto de receber a tal estatueta. Mas a idéia deste post é discutir um fato: o porquê do cinema brasileiro contemporâneo não ter ganho um Oscar.
Será que nossos filmes são tão ruins que não alcançaram mais do que três indicações a melhor filme estrangeiro? Sabemos que o Brasil está de costas para o restante da América Latina, mas acredito que diversos filmes nacionais são tão bons quanto uma competente produção argentina ou mexicana. Então, por que o preconceito da Academia?
Pois na década de 60 alguns senhores chamados de Militares chegaram ao poder no Brasil. Como fazer cinema era coisa de subversivo e poderia incitar a “pensamentos maléficos” sobre o regime que havia no Brasil, só passaram a ser permitidos no Brasil filmes com o intuito de “distrair” o povo. Foram aí que surgiram as “comédias pastelão”, protagonizadas pelos Trapalhões, Mazarópi, entre outros. E também foi aí que se expandiu a face mais baixa do cinema brasileiro, e que ainda hoje nos custa caro “lá fora”: a pornô-chanchada. Tratava-se de filmes pornográficos no real sentido da palavra, sem um mínimo de história, roteiro ou algo parecido, e que caracterizou o cinema nacional por diversos anos, quiçá décadas. Ainda hoje, a pornô-chanchada causa problemas à visão que os críticos estrangeiros tem do cinema nacional. E deveremos levar muito tempo ainda para nos recuperarmos.
Mas nós sabemos que o cinema brasileiro tem qualidade, e é por isso que na próxima vez que formos à locadora, vamos dar uma olhada com mais cuidado na prateleira “nacionais”, não é mesmo? E se você ainda não se convenceu, aí vão três “Made in Brazil” que você precisa ver: Abril Despedaçado, O ano em que meus pais saíram de férias e O cheiro do ralo. Sejamos bairristas, por um bom motivo. Ou se você acha que o cinema não é um bom motivo para se orgulhar do país, então, sei lá. Assista Brasil x Itália com Galvão Bueno narrando.

Parece cinema argentino, mas é O ano em que meus pais saíram de férias

Pois eis que vou tirar uns dias de folga. Sim, mas antes que vocês entrem em depressão profunda, percam a razão de viver ou chorem compulsivamente, fiquem sabendo que estes dias serão curtos, pois segunda-feira já estarei de volta. Até lá, espero que este post tenha uns 200 comentários, no mínimo.
Comportem-se, mortais trabalhadores.

6 de fev. de 2009

Os Cegos do Castelo e nós, os Azarados

É o assunto “pop” do momento, até porque a Globo abraçou a causa, mas tudo bem, eu vou falar também. É o tal do Castelo.
Para quem não sabe do ocorrido, o deputado Edmar Moreira, do (surpresa!) Democratas de Minas Gerais, partido mais conhecido pela sua abreviatura (DEMO), foi eleito nesta semana corregedor da Câmara dos Deputados, o cara que fiscaliza os colegas, dá bom exemplo, etc e tal. Pois descobriram que o cara tem, em Minas Gerais, mais precisamente, no interior do interior do estado, um castelo de verdade, avaliado entre R$ 20 e R$ 25 milhões. Seria algo como se alguém tivesse um castelo em, sei lá, LINHA POMPÉIA, interior de Coronel Pilar.

De fazer inveja até ao Rei-Sol

Além disso, parece que o deputado tem problemas de sonegação de impostos trabalhistas, entre outras coisas. O “imóvel” não foi declarado nas últimas eleições, e segundo o deputado, não o foi porque o castelo foi dado a seu filho. Ah, completando a história, a cidade onde foi construída a pequena casa é governada pela mulher do deputado.
A Globo, desde ontem à noite, bateu sem parar na questão, acusando veementemente o deputado, manipulando a opinião pública de modo avassalador. Como agora o Chaves não passa mais às 7 da manhã, sou obrigado a tomar café assistindo ao Bom Dia Brasil, tele-jornal que também malhou exaustivamente o deputado. Alexandre Garcia era um dos mais exaltados, humilhando e destruindo com toda e qualquer moral que podia existir ao deputado.
Pois bem. Claro, sabemos que o deputado é culpado, afinal, basta ver seu jeito de falar e sentimos aí que ele está incorporando ACM na veia. A grande questão é: por que cargas d’água SÓ AGORA essa história veio á tona? Será que o deputado não cumpriu algum acordo que havia feito à tempos atrás com a dita emissora? Ou será que de uma hora para outra a Globo resolveu montar em seu cavalo e sair a liderar a “Cruzada pela Verdade Absoluta”? O Castelo foi construído na DÉCADA DE 80. Será que ninguém nunca o havia visto antes? Mais indignante do que o próprio fato em si é essa hipocrisia da imprensa. Não se iludam: é tudo farinha (de joio) do mesmo saco.

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Sei lá, às vezes eu acho que o Brasil está condenado para sempre a ser essa fonte de corrupção, mau-caratismo e alienação. Acho que nós somos um povo azarado, não adianta.
No mesmo dia em que a “Questão Castelo” veio à tona, era enterrado no Rio Grande do Sul o deputado federal Adão Pretto, um dos poucos na Câmara Federal a defender as causas dos movimentos sociais, como MST, Via Campesina, entre outros. Filho de agricultores, lutava, muitas vezes inutilmente, contra a maior bancada do Congresso, formada pelo bloco dos grandes fazendeiros e latifundiários. Morreu prematuramente, vítima de pancreatite. Os movimentos sociais estão ainda mais sozinhos e isolados. Vai ver, somos azarados mesmo e não há lei ou plano que possa mudar isso.

3 de fev. de 2009

Você APÓIA essa IDÉIA?

Como todos sabem (ou devem saber), desde o dia 1º de janeiro do ano da graça de 2009 está em vigor no Brasil, em Portugal e outros países de quem a mídia nunca fala a nova ortografia do idioma português, ou simplesmente a reforma ortográfica.
Não vou aqui explicar quais são as principais mudanças, até porque todos nós já eestamos enjoados de saber disso. Queria discutir o porquê desta mudança.
A idéia é “unificar” o idioma português, usando a mesma escrita tanto no Brasil como em Portugal, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e Timor Leste. Pois eu questiono: por quê? Não seria mais importante mantermos as nossas diferenças? Será que assim não estamos abrindo mão de características peculiares do nosso “português brasileiro”?

Jamais te esqueceremos, amigo.
Sinceramente, não vejo necessária uma mudança como esta, em pleno 2009. Acho que, muito mais importante do que tentar mudar a forma de se escrever, é fazer com que as pessoas escrevam direito. Temos milhões de analfabetos, e dezenas de milhões de analfabetos funcionais, aqueles que não entendem o que LÊEM (pega no meu circunflexo). Não seria melhor que todos estes milhões pudessem ter a capacidade de realmente compreender e interpretar o que estão lendo? Ah, pois é, melhor não, pois senão eles terão a capacidade de pensar, e irão ameaçar a ordem e o progresso nesta nação com políticos tão competentes que elegem um dinossauro para presidente do Senado.
Em Portugal, a reforma ortográfica também não foi muito bem vinda. Em uma entrevista que vi recentemente em uma emissora que não lembro qual era (acho que, desgraçadamente, era na Marinho’s Family), três “intelectuais” portugueses criticavam as novas regras, acusando-as de estarem “abrasileirando” o português. Ué, mas eles não “abrasileiraram” Portugal com nosso ouro?
Bom, mas não adianta chorar pelo leite com Nescau derramado. Até 2012, teremos de estar em dia com as novas regras, pois só elas é que irão valer em concursos, vestibulares e leis. Creio que até lá iremos conseguir compreender porque um país quer escrever diferente antes de escrever direito. E, oxalá, possamos também entender que O VOVO VOOU NO VOO 001 é uma frase, e não um código binário.

27 de jan. de 2009

Paralelas que se cruzam em Belém do Pará

Começou de forma oficial hoje, em Belém do Pará, a nona edição do Fórum Social Mundial. Como todos já sabem (ou deveriam saber), o Fórum surgiu em 2001, sob o lema “Um outro mundo é possível”, com a idéia de fazer um contraponto ao Fórum Econômico Mundial, realizado todos os anos na chiquéééérima Davos, na Suíça (uma Gramado com grife), onde chefes dos estados mais ricos do mundo reúnem-se em mesas de mármore para beber dos vinhos mais caros, tragar os charutos mais sofisticados (CU-BA-NOS), e saborear pratos que eu e você não conseguiríamos soletrar. Em meio a isso, discutem as melhores maneiras de se manter o sistema neoliberal e manter a riqueza de seus países. Obviamente, só os mais ricos participam. Vez ou outra, convidam o presidente de algum país pobre, como por exemplo, sei lá, Brasil, para dar uma palestra e deixar todos fascinados, sem que isso, é claro, diminua as barreiras comerciais e alfandegárias que eles impõem a estes países subdesenvolvidos.

"Que tal aquele Cabernet de ontem?"
Bom, mas o assunto do post é o Fórum Social, e não os bacanas que estão no país mais neutro do mundo. O tema deste ano do Fórum Social, pasmem, é a economia, afinal, o sistema neoliberal, como nós estamos vendo, está se afogando em sua própria piscina, e é preciso discutir alternativas para o que virá daqui para frente.
Entretanto, seria muita hipocrisia realizar um Fórum Social Mundial na Amazônia sem discutir a questão indígena. Obviamente, este problema será um dos assuntos mais abordados, devendo contar, inclusive, com a presença de dezenas de tribos da Amazônia, as quais tiveram transporte gratuito até o Fórum. E é preciso que se discuta muito a fundo, realmente esta questão. Afinal, não bastasse estarem sem a terra que a eles lhe pertence, os indígenas estão sendo encurralados cada vez mais, em áreas restritas da Amazônia. Felizes das tribos que nunca tiveram contato com o homem branco (se é que alguma ainda teve essa sorte).
Talvez a idéia de trazer as tribos seja apagar um pouco do vexame que o Brasil deu ao mundo na “comemoração” dos 500 anos de descobrimento (sic) do Brasil, em 22 de abril de 2000. Naquele dia, tribos indígenas foram espancadas e expulsas das festividades em Porto Seguro, as quais, obviamente, eram restritas apenas ao homem branco, civilizado e responsável por trazer a luz e a ordem a este eldorado imerso no pecado.

"Nós deram espelhos, e vimos um mundo doente..."

Deverão participar do Fórum os presidentes símbolo da nova corrente política que se espalha pela América Latina com a vontade do povo, e que espalha medo pelas Vejas da vida: Hugo Chávez, da Venezuela, Evo Morales, da Bolívia, Rafael Correa, do Equador, e Fernando Lugo, do Paraguai, além de outros esquerdistas mais teóricos, que são (eram) desta corrente: Lula, do Brasil, e Michele Bachellet, do Chile. A imprensa, lógico, tratou logo de qualificar o Fórum como “um encontro de esquerdistas/loucos/ditadores/malvados. Sem querer me estender muito, fico na esperança de que novas idéias, novos mundos, realmente surjam da beira da foz do Amazonas.
E é uma pena, uma pena mesmo, que Porto Alegre não receba mais o Fórum. Me arrependo imensamente de não ter ido em alguma das edições que aconteceram na terra de Ronaldinho Gaúcho. Espero que, em breve, a capital volte a receber uma edição do evento. Se isso acontecer, estarei lá com minha barraca, com certeza. Enquanto isso, só nos resta torcer que a turma que está reunida na terra do Mercado Ver-o-Peso consiga buscar alternativas ao sistema que está apodrecendo. Afinal, não nos fizeram acreditar que outro mundo é possível?

24 de jan. de 2009

Na falta de um cinema, vamos de DVD mesmo

Bom, já que hoje é sexta-feira, é final de mês, estamos todos duros e quase sem recursos para fazer algo mais SOFISTICADO no findi, resolvi fazer um post de utilidade pública e falar um pouco sobre os últimos filmes que andei assistindo. A maioria são coisas boas, mas na última quarta-feira, tive um surto e senti uma vontade INCONTROLÁVEL de locar um filme comercial, como vocês verão num dos relatos abaixo.

O Banheiro do Papa – Já citado por inúmeras vezes neste blog e tema, inclusive, de um post (olha aqui ó: http://paposchatos.blogspot.com/2008/08/o-banheiro-do-pan.html), O Banheiro do Papa está disponível em Garibaldi para locação na Vídeo.com. Claro que, quando vi o dvd lá, quase surtei, mas sim, ele era real. Só um detalhe: ele ta na prateleira das Comédias, mas tudo bem. Bom, mas sobre o filme, ele entrou no meu Top 3. É realmente tudo aquilo que falam. Não vou contar nenhum detalhe da película porque todos vocês PRECISAM assisti-lo. Mas El Baño del Papa é mais um prova que o cinema latino-americano é, sim, um dos melhores do mundo, fazendo filmes brilhantes com pouquíssimos recursos.


Capriche na pipoca
Sombras de Goya – Dica da Vivi, a dona da locadora, Sombras de Goya nos leva até o século XVIII para conferir os resquícios e o terror da Inquisição espanhola, uma das mais cruéis da Europa. Recomendo, até para observarmos as atrocidades cometidas pela Igreja Católica num passado não tão distante assim. Ah, um dos atores principais é Javier Barden, ou seja, a qualidade está garantida.

O Amor nos Tempos do Cólera – Baseado no excelente livro de Gabriel García Márquez, é outro filme excelente, a não ser que você não goste de drama e romance. O único detalhe imperdoável na película é o fato da história toda se passar na Colômbia, e o filme ser falado em... inglês! Ah, para os patrióticos: Fernanda Montenegro é uma das atrizes do filme. E dá show, obviamente.

Ensaio Sobre a Cegueira – FANTÁSTICO. PROFUNDO. IMPERDÍVEL. Isso basta para falar desse filme, baseado em um dos meus livros favoritos.


Juliane Moore puxa a fila de grandes interpretações em Ensaio Sobre a Cegueira

Hancock – Errr... Glup... Ta, sim, eu retirei Hancock, e daí? Sabe aqueles dias em que você precisa assistir um filme comercial? Pois estão, quarta-feira era um desses dias, e aí eu O FIZ. Pois Hancock é insuportável. Will Smith deve ser um robô, pois seus gestos, seus movimentos, seus roteiros são iguais em todos os filmes. Aliás, falando em roteiro, é o mesmo de todos os filmes de ação: um herói fodão, que passa por todo mundo e quase morre no final. Mas só quase, porque por milagre ele sobrevive. Ops, contei o final do filme! Bom, melhor assim, aí vocês não precisam retirar. Economizarão seu rico dinheirinho.

O Último Rei da Escócia – Sim, SÓ HOJE eu fui assistir O Último Rei da Escócia, filme sensacional com a MONSTRUOSA atuação de Forest Whitaker. Mas pó, antes tarde do que nunca, né?

"Ugandaaaaa!!!"

Então crianças, eram essas as dicas que eu tinha para o final de semana, quando a locadora deverá ser uma boa e barata companhia. Comportem-se e obedeçam os pais, senão o Tio Hancock vai joga-los até a estratosfera, viu?

20 de jan. de 2009

Ensaio sobre o clichê “o dia de hoje entra para a história”

Confesso que, após assistir um filme como Ensaio Sobre a Cegueira, fica-se realmente um tanto perturbado, pensando em certas coisas. Mas achei oportuno o momento, e o dia, afinal estamos todos “cegados” pelo efeito Barack Obama que vimos hoje, exaustivamente, na tv, na internet, e que veremos amanhã nos jornais impressos.
Pois o fato é que Barack Hussein (que ironia, hein Bush?) Obama entrou para a história hoje. Todos nós entramos. Daqui a dez, vinte, CINQÜENTA (Trema VIVE), cem anos, o dia de hoje estará presente nos livros didáticos como o dia em que os Estados Unidos empossaram o seu primeiro presidente negro da história. Todos nós estamos contaminados por um sentimento de euforia, de emoção, de esperança, enfim, por aquele clima que só existe no Reveillon. A mídia noticia aquilo que parece ser a salvação do mundo. Será assim mesmo?

lágrimas, tomara, só de alegria
Bom, vamos aos fatos. Os Estados Unidos estão em franca queda no seu poderio, enfrentando a segunda crise econômica mais grave de sua história. Ok, Obama é negro, é da “minoria” (apesar de ser rico), mas é bom lembrar que uma andorinha só não faz verão. É preciso atender a todos que estão presos, vitaliciamente, à esta imensa teia chamada Poder. Ora, o Brasil elegeu um operário, e não vimos por aqui uma nova Revolução Russa, apesar do “Eu tenho medo” (DUARTE, Regina, 2002).

boleragi

Certo, lá vem o Johnny pessimista, desprendido de seus sonhos de início de faculdade, para gritar “Não vai mudar nada! Nunca vai mudar!”. Não, também não é assim. Com certeza teremos mudanças, mas, na minha opinião, estão vendendo uma imagem do novo presidente dos EUA que ele não conseguirá cumprir, mesmo se quisesse. Afinal, os EUA continuam imperialistas (aliás, não gostei do Obama chamando seu país de América; perdeu pontos comigo), as restrições comerciais aos países do terceiro mundo (ou emergentes, né Elisa?) continuarão fortes, enfim. Os EUA continuarão sendo os EUA. Afinal, para nosso azar, Obama não é comunista.
Até onde eu sei, não come criancinhas.

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Ah, em tempo: George War Bush, já vai tarde. Esperamos nunca, jamais, ver a sua cara de novo, porco assassino, imperialista maldito, idiota ignorante.
Pronto, desabafei.

Tu não merece mais do que três linhas. ah, e apaga a luz. Kioto agradece.

17 de jan. de 2009

Alienação hindu (parte 2)

Eu, há cinco meses atrás: http://paposchatos.blogspot.com/2008/08/se-voc-daquelas-pessoas-que-adoram.html

"Pois Caminho das Índias, a próxima novela da acima citada, vai falar sobre a (!) Índia! Vem aí nomes estranhos, no idioma hindu (ou seja lá qual for o idioma que a Glória Perez criar), roupas coloridas, enfim, moda indiana. O Globo Repórter, muito em breve, deverá fazer alguma matéria especial sobre a Índia, as revistas de moda só falarão sobre a Índia, todos só falarão sobre a Índia, Índia, Índia. Já vou avisando desde já".

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A Globo, ontem: http://video.globo.com/Videos/Player/Entretenimento/0,,GIM948897-7822-CONHECA+OS+SEGREDOS+DA+INDIA+NO+GLOBO+REPORTER+DESTA+SEXTA,00.html

"Conheça os segredos da Índia no Globo Repórter desta sexta"



E isso é só o começo.

13 de jan. de 2009

Vamos dar uma alienadinha?

Neste exato momento, enquanto escrevo este post, a grande, a esmagadora maioria dos brasileiros estão ligados em um programa. Não é qualquer programa. É o programa de maior audiência da televisão brasileira. É o programa que vai ser a base de 98% das conversas, até abril, nas salas de aula, nos escritórios, nos bares, após o futebol, e, quem sabe, até no Palácio do Planalto. Sim, é ele, o Grande Irmão do Brasil.
Por favor, apenas um aviso: se você assiste este programa, não chegue perto de mim. Ou, pelo menos, não comente NADA sobre o dito cujo perto de mim. E eu estou falando sério.
É simplesmente incompreensível como algo tão fútil, tão mesquinho tão baixo e tão vulgar pode fazer tanto sucesso. Será que as pessoas que estão lá dentro são um reflexo dos que assistem? Pode ser. Mas a questão é que não são apenas as pessoas das classes menos favorecidas, e, TEORICAMENTE, as que tem menos “cultura”, que assistem o Grande Irmão. Todas as classes sociais assistem. Tenham certeza que o assunto mais comentado em jantares burgueses, em salões de beleza cujo atendimento custa mais que meu salário do ano todo, nas faculdades, enfim, nos mais diversos lugares da “alta sociedade”, será o programa que inicia hoje.
E como se já não bastasse a Yeda, desgraça pouca é bobagem para o Rio Grande do Sul. Leio em sites por aí que o nosso estado, proclamado aos quatro ventos como o mais politizado, o mais culto, o mais desenvolvido do Brasil, terá TRÊS representantes. Semana passada, estava degustando o DELICIOSO almoço preparado por estas mãos que ora digitam o teclado, quando o Jornal do Almoço (melhor nome) passa uma matéria mostrando a vida, as fotos, as famílias, os cachorros, os canários belgas, enfim, tudo sobre os três gaúchos que nesse momento estão conversando com Pedro “Adoro Fazer Crônicas” Bial. Obviamente, quando vi do que se tratava, troquei de canal, mas quando voltei para o canal dos Sirotski, mais de dez minutos depois, a matéria ainda estava lá, me atormentando. Com certeza, foi a grande matéria do dia, afinal, passou no horário mais “nobre” do noticiário.
Ontem estava no ClicRBS quando vejo uma das matérias: “Família de Fulana (nome da participante) já encomendou as camisetas para a torcida”. E a matéria dedicava-se a mostrar como ia ser a camiseta que a família de uma das três pessoas usaria para torcer pela bendita. Dava, inclusive, detalhes como o local onde foi feito e o número de camisetas encomendadas. A mãe, inclusive, deu uma declaração parecida com essa: “Ela pediu que as camisetas fossem desse tipo”.
É, realmente não será fácil sobreviver intacto às rodas de conversa nos próximos três meses. O que nos resta é tapar os ouvidos ou engolir o que dizem e depois vomitar tudo no banheiro.
Recomendo, também, não entrar em sites do tipo Terra, Globo, Uol, entre outros, pois o assunto do momento todos já sabem qual é. Não, não é o genocídio em Gaza, não é a crise econômica mundial, não é a posse de Obama. È um programa que oferece muita cultura, ensino e inteligência à população brasileira. Um programa que ensina vícios lindos como cigarro e bebida. Um programa que nos faz refletir muito sobre a situação atual do Brasil. Afinal, um programa cuja proposta é dar comida, bebida, diversão e tranqüilidade (Trema FOREVER) de graça a 18 pessoas sem cérebro deve ser muito mais interessante do que Papos Chatos como política, cultura, educação...

12 de jan. de 2009

POST EXTRA - Ministério Público de SC processa a RBS por monopólio!

Achei esse texto no Observatório da Imprensa e, obviamente, precisava dividir com vocês!


ENTREVISTA / CELSO TRES "É a RBS que governa o estado"

Por Rafaela Mattevi e Cora Ribeiro em 16/12/2008

Publicado originalmente no jornal-laboratório Zero, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), edição de novembro 2008

Na quarta-feira (10/12), o Ministério Público Federal de Santa Catarina entrou com uma Ação Civil Pública (processo nº. 2008.72.00.014043-5) contra o oligopólio da empresa Rede Brasil Sul (RBS) no Sul do Brasil. O MPF requer, entre outras providências, a diminuição do número de emissoras da empresa em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, de acordo com a lei; e a anulação da compra do jornal A Notícia, de Joinville, consumada em 2006 – que resultou no virtual monopólio da empresa em jornais de relevância no estado de Santa Catarina. O quadro geral da situação pode ser conferido a seguir, na entrevista realizada em novembro com Celso Tres, um dos procuradores que elaborou a medida judicial.
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O Cade também é réu

Desde 2006, o MP fala em processar a RBS pela compra do jornal A Notícia. Isso vai acontecer?

Celso Tres – Sim, a ação está sendo instruída há dois anos, por meio de um Inquérito Civil Público (ICP), porque é bem complexa. Também participam vários procuradores no estado. A RBS tem uma posição totalmente dominante. No RS e em SC, são 18 emissoras de televisão, dezenas de estações de rádio, uma dezena de jornais. E a culminância disso foi quando a RBS comprou o jornal A Notícia, o que a tornou dona de todos os jornais de expressão dos dois estados.
Então, o que nós vamos discutir é essa questão do oligopólio à luz inclusive da lei que regula a ordem econômica, não é nem a lei da mídia propriamente dita. É tão grotesco isso, que nem essa lei que regula a atividade de economia em geral permite o oligopólio – obviamente, é muito menos lesivo numa sociedade você ter um oligopólio de chocolate, pasta de dente, do que ter oligopólio da mídia. Falo oligopólio, porque monopólio seria a exclusividade absoluta; mas a RBS tem posição quase totalitária.
A tendência da economia é a concentração e, por isso, certas compras de empresas têm que ser analisadas. Esse caso da RBS é um escândalo, ela governa o estado. Como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou a compra do AN? O Cade é réu na ação porque aprovou isso.

Violação a direito difuso

O que vai ser requerido, especificamente, na ação?

C.T. – Em linhas gerais, o que o MP demanda é: primeiro, que a compra do AN seja desfeita – eles vão ter que devolver o jornal para o antigo dono ou vender para terceiros; segundo, que seja cumprida a lei que diz que eles só podem ter no máximo duas emissoras no estado, ou seja, que acabe essa farsa que é de ser tudo da mesma família; e terceiro, o que eu acho mais importante, a implementação da programação local. A Constituição Federal determinou que é obrigatória a programação local. Só que em 20 anos nunca se adequou a lei. Então, o MP está querendo que a Justiça arbitre um percentual – 30% de programação local no âmbito do estado e 15% em cada região, no mínimo.
São inúmeros réus: todas as pessoas físicas da RBS, cada "emissora", o Cade; a União, por causa do Ministério das Comunicações (MC). E o MP pede para que a Justiça estabeleça uma multa por violação a um direito difuso, em razão da omissão do poder público. A gente vai entrar com a ação nos próximos meses e a sentença em primeiro grau deve sair em um ano.

Evitar concentração

O que foi feito no Inquérito?

C.T. – O ICP não é um processo judicial, não tem contraditório, ou seja, quem é investigado não tem direito de resposta. Mesmo assim, o MP abriu pra RBS se manifestar e, inclusive, eles vieram com o mesmo discurso do Ministério da Comunicação. Eles [a RBS e o MC] se comunicaram, é uma piada. A mesma pessoa que redigiu a resposta do Ministério redigiu a da RBS, é uma coisa vergonhosa. O mesmo discurso: "Não, porque a lei diz que é a mesma pessoa física só que no caso não é." É chamar o legislador de imbecil.
Quando a lei diz que tu não podes ser titular de mais de dois veículos, qual é o objetivo dela? É evitar concentração. Se é da mesma família, se tem a mesma programação, está concentrado, é evidente. É uma fraude clara ao objetivo da lei. Não teria sentido proibir que alguém seja proprietário de mais de dois meios de comunicação e permitir que esse meio de comunicação transmita a mesma programação, tenha a mesma linha editorial etc. É a mesma coisa que nada.

Pessoa física, e não pessoa jurídica

Então o problema do oligopólio é a fiscalização?

C.T. – A nossa legislação é desacatada porque o uso da radiodifusão sempre foi um benefício político. Essa relação do poder público está tão viciada que o MC não faz absolutamente nada para reprimir esses ilícitos e o caso da RBS é muito claro.
Na última eleição [para governador], isso ficou bastante evidente. A tríplice aliança de Luiz Henrique foi com a RBS; foi uma vergonha porque no primeiro turno a RBS anunciava que não ia ter segundo turno. Daí, deu segundo turno e eles anunciaram até um dia antes da eleição dizendo que a diferença era astronômica e, no final, deu 5% de diferença entre o Amin e o Luiz Henrique. Então não há dúvida de que a RBS elegeu o Luiz Henrique. Independentemente da pressão política, isso é irrelevante para o MP. Mas qualquer inocente sabe que a massificação de alguém que está na frente arrasa, induz o povo a votar.
Em cada estado, um titular só pode ter no máximo duas emissoras – emissoras, não retransmissoras. Este é outro vício: as emissoras têm outorgas de emissão, ou seja, elas deveriam produzir programação, mas não produzem ou fazem uma programação local ínfima, como é o caso da RBS. Existem várias "emissoras", em Florianópolis, Criciúma, Lages, Xanxerê, Blumenau, Joinville. Mas, na verdade, elas só produzem um noticiário local.
Hoje, na verdade, em SC, ou você trabalha na RBS ou você está fora. Você vai estar trabalhando ou em órgãos bem pequenos, espaço de trabalho inclusive bastante reduzido, caso do que eles fizeram com o AN. As matérias são as mesmas, teve um momento assim que chegaram ao ridículo de colocar a mesma manchete, a mesma matéria.
A radiodifusão – emissora de rádio e TV – deve estar em nome de pessoa física, não de pessoa jurídica, e cada pessoa só pode ter duas por estado. Daí, o que eles fazem é colocar em nome de pessoas da família. E isso tudo está demonstrado claramente na ação. Inclusive a questão da retransmissão.

Dizimar a concorrência

E isso não é contrato simulado, colocar tudo no nome da família inteira?

C.T. – Essa questão da titularidade é uma questão criminal, porque é uma falsidade ideológica. Isso a gente vai verificar mais tarde. O objetivo, agora, é mudar a realidade. O MC diz que não controla isso porque a RBS está em nome de terceiros. É óbvio que é irrelevante que a concessão esteja no nome de A ou B, até porque – como é o caso de Blumenau, que não está no nome da família Sirotsky – retransmitem a mesma programação, essa é a grande questão, o conteúdo.
A lei diz que ter 20% do mercado é ter posição dominante e obviamente a RBS tem isso. E essa questão tem vários aspectos: direito à informação e direito à expressão, e também a questão da publicidade. Por exemplo, o Diarinho de Itajaí, o que a RBS faz com os caras? Na Rede Angeloni, faz contratos publicitários, impedindo que o supermercado coloque lá o Diarinho para os caras venderem. Então não existe concorrência, acabou. A concorrência é dizimada. Na Grande Florianópolis, eles lançaram o jornal A Hora a R$ 0,25, o que é claramente um preço inferior ao de custo, pra dizimar com a concorrência. Essas são as práticas deles.

Executivo subalterno

Existe solução?

C.T. – A questão é permitir a multiplicidade. A rede pública de televisão, com a criação da TV Brasil, poderia ter sido uma saída, mas o governo fez tudo errado. O correto seria que o Estado disponibilizasse canais, não adianta tentar produzir programação.
Seria fácil: criar 30 canais de TV para serem disponibilizados à população. Depois seria só colocar retransmissoras públicas nos centros urbanos, para os canais transmitirem programação independente. Uma medida simples, percebe? Bastava criar os canais e construir as retransmissoras. É uma questão tecnológica e de vontade política.
Custaria muito mais barato do que o governo tentar produzir programação e todos teriam oportunidade de fazer sua produção. O governo faria as retransmissoras, pura e simplesmente. Seria uma revolução na comunicação. A mídia, em pouco tempo, mudaria porque, com uma multiplicidade de canais, o canal com maior audiência chegaria a 15%, 10%, como é nos EUA, que é o correto.
Certamente se o governo viesse "Ah, vamos fazer aplicar a lei das duas emissoras", eles iam dizer, "Não! É uma lei da ditadura! O Lula é o Chávez." É uma besteira. O que diz a lei? Cada cidadão tem que ter um número x de canais, essa é a meta. Podia botar no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) isso aí. É uma questão econômica, direitos individuais, gera muito emprego, oportunidades, veiculação comercial; atingiria em cheio a própria economia.

O principal modo de democratizar não seria combater o monopólio e o oligopólio?

C.T. – O primeiro passo seria esse, mas, como eu falei, os órgãos do executivo são muito subalternos e também a RBS pode virar o governo. Qual a finalidade de um deputado federal que vai lá propor uma legislação mais rígida para isso? Se é um deputado de SC, a RBS vai fazer algumas reportagens contra o cara e ele está acabado. O cara não se reelege mais.

Você já foi ameaçado?

C.T. – Não, por isso não.
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10 de jan. de 2009

Eu, eu mesmo e o futebol

Quinta-feira, 08 de janeiro de 2009. Em frente ao Hotel Dall’Onder Vitória, em Bento Gonçalves, centenas de pessoas. Um temporal está caindo. Nenhuma delas se importa. Todas estão na chuva, completamente ensopadas. Há crianças, há idosos. Todos pulam sob chuva, raios e trovões. O momento de maior loucura foi ao cantar Atirei o P.. no Inter.
Sim, o assunto volta a ser futebol. Milhares de pessoas enfrentaram o dilúvio que caía sobre a Serra Gaúcha na última quinta-feira para receber a delegação do Grêmio. Centenas de pessoas no trevo de acesso a Carlos Barbosa, outras tantas em frente ao Posto do Avião, e a maior concentração, em frente à Pipa Pórtico.
Só o futebol. Só o futebol seria capaz de movimentar, de mobilizar as pessoas desta maneira. Será que se o assunto fosse “Protesto contra a Chacina em Gaza”, alguém sairia de sua casa naquele dia? Os jogadores passaram, abanaram e entraram no hotel, onde tomariam um banho quente, comeriam do bom e do melhor e checariam sua conta bancária para ver se o astronômico salário já estava depositado. Enquanto isso, as milhares de pessoas que estavam lá, sob a chuva, iriam para casa, provavelmente muitos deles acordariam no dia seguinte com uma forte gripe, outros perderiam pertence4s no meio do tumulto (fiquei sabendo que um guri de Garibaldi perdeu o celular NOVO com TV DIGITAL). Talvez muitos não teriam o que comer. Mas estavam realizados, pois estavam felizes, aquele momento os satisfez.
No link a seguir, vocês podem conferir algumas fotos do "evento": http://www.clicrbs.com.br/clicesportes/jsp/default.jsp?newsID=DYNAMIC%2Cgaleria.GalleryDelivery%2CphotosGalleryXml&mnit=7&template=1482.dwt&groupid=39&galeriaid=16161&uf=1&local=1&section=galeria

É, vai entender o futebol.




Em tempo: muitos de vocês devem estar se perguntando como eu sei todas essas informações, não é mesmo?
Bom, eu estava lá também.

Sim, já podem atirar as pedras.