17 de mar. de 2009

Raul e o início

Raul tinha apenas dois anos quando o avião em que viajava com seus pais caiu em plena selva amazônica. O bebê foi o único sobrevivente, por algum desses motivos que só as histórias fictícias podem explicar. Pois o fato é que Raul foi criado pelos índios da tribo Comunis, que nunca havia entrado em contato com o homem branco. As atividades da tribo consistiam em caçar, pescar e recolher frutas. Tudo o que era caçado, pescado e recolhido, diariamente, era colocado numa construção que ficava no centro da aldeia. As sobras eram aproveitadas no dia seguinte, e tudo pertencia a todos. A liderança, quase que de forma natural, era exercida pela pessoa mais velha, fosse homem ou fosse mulher.
Um dia, algumas semanas depois de completar 10 anos, Raul avistou vultos, ao longe, no Rio Anarquisis, que passava pelo centro da tribo, mas pensou tratar-se de algum animal estranho, ou alguma das muitas lendas que habitavam o cotidiano das palavras proferidas pelos membros mais experientes dos Comunis.
No dia seguinte, porém, no meio da manhã, enquanto pescava, ouviu um forte estrondo, algo que nunca havia sentido antes. Ao levantar a cabeça, viu que os vultos que ele havia visto no dia anterior estavam chegando, de barco, próximo à tribo, e que o estrondo vinha de um cano de ferro que um dos homens brancos carregava. Dois de seus companheiros haviam tombado ao chão, ensanguentados. Os Comunis corriam de um lado para outro, em desespero, sem entender o porquê daqueles “deuses” estarem agindo dessa maneira. Raul, entretanto, permanecia imóvel, talvez porque seu interior, de certa forma, já havia estado no meio daquela tecnologia.
Por um desses motivos que só a genética (e, claro, as histórias de ficção) podem explicar, Raul cresceu com a capacidade de entender o português. Um dos homens que estava no barco e havia atirado loucamente para todos os lados, disse:
-Então a lenda realmente é verdade! O filho da Família Burgo sobreviveu! Não é à toa que ninguém encontrou o seu corpo há oito anos atrás!
Um outro homem, que carregava uma grande cruz em seu peito, disse:
-Venha conosco, garoto. Vamos tirar-lhe deste estado de barbárie para lhe inserir na civilização.
Raul, sem saber exatamente o que fazer, deixou-se levar pelos homens, até porque os Comunis que não tinham sido mortos haviam fugido floresta adentro.
O garoto iria conhecer a “civilização”, iria conhecer o mundo, e nunca mais veria os Comunis. Os outros que estavam no barco não entendiam por que o garoto continuava o tempo todo, dentro do barco, virando-se para trás e com lágrimas nos olhos.


Este é o primeiro capítulo da saga de Raul, o primeiro personagem criado por este blog. A história de Raul, seus questionamentos e suas dúvidas acerca do mundo vocês irão conhecendo aos poucos, em meio às postagens normais do blog.
E viva a sociedade alternativa.

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