26 de ago. de 2008

O Banheiro do Pan

Você já assistiu O Banheiro do Papa? Provavelmente não, não é mesmo? (Elisa, shh). Trata-se de um filme uruguaio que, apesar de alternativo, popularizou-se bastante, mas, é claro, não chegou à unha dos pés da bilheteria de CLASSICOS deste ano como Batman, A Múmia 3, Homem de Ferro, entre outros títulos do cinema de cifras.
Pois El Baño del Papa (ahh, como é belo o idioma espanhol) conta a história de uma pequena cidade uruguaia perto da fronteira com o Brasil que prepara-se para receber o Papa João Paulo II. Moradores vendem casas, terrenos e automóveis para comprar mantimentos e embelezar a cidade a fim de atender aos inúmeros visitantes que esperavam receber, além é claro, de ter a esperança de melhorar de vida com a presença do SANTO PADRE.
Pois acontece que o Papa passa e nada acontece às pessoas. Aliás, acontece: elas estão mais pobres, endividadas, e sua vida continua na mesma miséria de antes.

O Brasil foi O Banheiro do Papa em 2007. Nosso país, mais especificamente o Rio de Janeiro, sediou no ano passado os Jogos Panamericanos (vinheta: Brasil-sil-sil!!). Durante mais de duas semanas, a CIDADE MARAVILHOSA foi o local mais perfeito das Américas: tranqüilidade, segurança, turistas, medalhas, enfim. Tudo como a Globo sonhou. Para completar, ainda conseguimos, com muito ORGULHO, o terceiro lugar no quadro de medalhas, logo atrás de Cuba e a quilômetros de distância do TIME C dos Estados Unidos.
Pois bem: qual o legado destes Jogos, além de muitos elefantes brancos? O que o povo brasileiro ganhou com isso? A segurança melhorou após os jogos? O Rio passou a ser uma cidade melhor para se viver? Ah, uma coisa melhorou, com certeza: o bolso de quem organizou este evento, que custou 4 BILHÕES de reais dos nossos cofres.

O Rio de Janeiro continua lindo

Pois não bastasse isso, querem implantar mais dois Banheiros do Papa no Brasil: a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016. O primeiro já foi conseguido, pois a Fifa confirmou a Copa por terras tupiniquins daqui a seis anos. Vem muito elefante branco por aí, e muitos dólares para o bolso de Ricardo Teixeira, cujo mandato frente à CBF durará mais do que a vida da Dercy Gonçalves.
E existem grandes chances de termos a Olimpíada por aqui também. Maquiaremos o Rio mais uma vez. Recomendo: se você quiser visitar o Rio sem medo de ser feliz, espere por agosto de 2016.

Com os bilhões de dólares que serão investidos nos dois eventos (mais os que já foram por causa do Pan) poderíamos solucionar o problema da educação no Brasil, oferecer muito mais ensino superior gratuito, instruir melhor nosso povo. E por que não o fazemos?

Simples: bem instruído, o brasileiro terá a capacidade de raciocinar, de saber reclamar, protestar e derrubar quem está lá no alto. Realmente, é melhor investirmos bilhões na Copa. É muito mais fácil controlar o povo com a vinheta da Globo e com o Galvão Bueno do que com educação.

8 comentários:

  1. "...bem instruído, o brasileiro terá a capacidade de raciocinar, de saber reclamar, protestar e derrubar quem está lá no alto. Realmente, é melhor investirmos bilhões na Copa. É muito mais fácil controlar o povo com a vinheta da Globo e com o Galvão Bueno do que com educação."

    SEM PALAVRAS! Clap clap clap clap clap clap clap pra ti!

    VOTE JOHNNY PARA PRESIDENTE!
    (Ironizando um pouquinho né, se não não é a Cami. Mas estou sem palavras, disse T-U-D-O!)

    Besos (muy belo!)

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  2. Bem legal o blog, João... Tu te expressas bem, tem mesmo que procurar escrever sempre! Quanto à esse último post, eu discordo um pouco.
    Não que o nosso governo esteja certo em buscar esse tipo de evento milionário para o nosso país "em desenvolvimento", mas o que realmente vejo é um povo que clama pelo clássico pão e circo que funciona "muito bem, obrigado" desde os tempos romanos.
    Quanto a questão da melhoria em diversos setores essenciais do país, dificilmente irá acontecer...
    Com eventos esportivos sendo promovidos no país ou não.
    Ao longo da história, pode-se perceber que as mudanças ocorrem de baixo para cima, logo, é o povo que se mobiliza e luta por seus direitos e não o governo que os oferece de bandeja(o último presidente sul-americano que tentou algo oposto foi assassinado em 1973, no Chile.). E nem adianta culpar APENAS a falta de instrução, visto que sob uma ótica antropológica e social, a população brasileira sempre foi acomodada e antirevolucionária. Talvez nos falte um pouco do flamejante sangue espanhol ou do guerreiro espírito araucano.

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  3. Mas, mudando de assunto!
    Contagem regressiva para a estréia de Ensaio sobre a cegueira. Será que o filme irá alcançar nossas espectativas?

    Beijo!

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  4. Oi Alice!

    Quanto à questão que tu coloca, tenho consciência que é utópica essa "revolução através da educação", apenas coloco nesse post que ela seria possível com as verbas de que o povo disponibilizará.
    No último parágrafo eu tento expor os motivos que fazem com que o governo não invista na base, e é o que tu colocas: pão e circo, futebol e samba.

    Quanto ao sangue espanhol, também concordo, mas em partes. Vejamos: a Espanha permitiu a criação de universidades em suas colônias na América, ao contrário de Portugal. Ainda hoje isso se reflete, já que o Brasil é um dos países da América com menos anos de escolaridade entre seus cidadãos.
    Isso acaba gerando a educação através da televisão, em programas como BBB, novelas, Jornal Nacional, etc.
    Enfim, acho que a acomodação do povo brasileiro é um processo (processo... nós, historiadores, sempre desembocamos nessa palavra) que vem de séculos, e muitos fatores precisam ser analisados.

    Mas, de fato, sempre tive mais simpatia por "revolución" do que por "revolução"...

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  5. E sobre Ensaio Sobre a Cegueira, não sei não... É muito difícil um filme baseado em um livro ser melhor do que o original...

    Obrigado pela bresença!

    =]

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  6. Obrigada pela referência a mim!
    hehehehehehe
    Então né, eu acho muito importante investir em eventos "pão e circo lifestyle", mas tem uma coisa que ainda não foi entendida nesse país: PRI-O-RI-DA-DE.
    beleza?

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  7. De nada Elisa1 ;)

    Pois é, mas acontece o seguinte: no Brasil (não só aqui, é bem verdade), os eventos pão e circo SÃO a prioridade!
    E continuarão sendo, para todo sempre!

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