20 de set. de 2008

Sirvam nossos mitos de modelo a toda terra

No dia em que a nossa mídia exalta as “façanhas” dos farroupilhas no século XIX, não podia deixar esta data passar em branco sem escrever algo por aqui. Não quero causar polêmica, mas o fato é que não gosto da Semana Farroupilha. Ao menos, não da forma como ela é explorada.
Um fato: o Movimento Tradicionalista é um verdadeiro negócio. Aqui entre nós, será que podemos chamar de “culto às tradições” as 500 regras que existem para se “pilchar” ou se comportar num CTG? Será que aquilo que temos de vestir categoricamente no Movimento Tradicionalista realmente é o que representa a nossa tradição? Ou tudo não passa de uma simples construção de uma imagem, de um mito? Afinal, como todos devem saber (e a própria mídia apresenta), os CTGs surgiram por volta da década de 40 do século passado, ou seja, foram sendo construídos aos poucos, ao bel prazer de seus idealizadores, que idealizaram e construíram uma imagem do gaúcho como nenhum estado conseguiu fazer.
Não sou contra CTGs, mas por favor, não me venham dizer que aquilo é história. Vamos ver alguns fatos.
Comecemos pelo próprio nome: “Revolução Farroupilha”. Qual o conceito de Revolução? Segundo o Dicionário, Revolução significa uma mudança brusca, violenta e profunda na estrutura de uma sociedade, seja em âmbito político, social e econômico. E quais foram as mudanças radicais que observamos na sociedade do Rio Grande pós Guerra dos Farrapos? Nenhuma, até porque a idéia não era provocar mudanças, mas sim conseguir benefícios em prol da elite de estancieiros gaúchos, os verdadeiros provocadores da batalha, e não “o povo gaúcho”, como diz a mídia. Apenas uma pequena parcela da população estava envolvida com o combate. Cai por terra também o mito do “povo peleador, louco por brigas”.
Sim, a Guerra dos Farrapos (nome estranho para um combate comandado pela elite) não passou de uma revolta das camadas mais altas da sociedade gaúcha, sendo que em nenhum momento a idéia inicial era criar um estado independente. A fundação da República Riograndense foi um fato desencadeado por diversos ocasos. O próprio Bento Gonçalves, tão idolatrado, era um monarquista conservador, passando para o “lado republicano na força” somente muito mais tarde, já com a guerra em andamento.
Idolatramos “heróis” como Bento, Giuseppe Garibaldi, David Canabarro (este não passava de um grande mercenário), mas JAMAIS a mídia lembra dos milhares de negros e índios que foram forçados a participar dos combates, e geralmente na linha de fogo, abrindo caminho e sofrendo a maior parte das baixas. Assim, conforme a “revolução” andava, também dava-se seqüência ao processo de limpeza étnica, eliminando negros e índios da sociedade.
Um dos ideais da “revolução” era o de Liberdade. Mas afinal, de que liberdade estamos falando? Afinal, em nenhum momento cogitou-se a libertação dos escravos, e a própria constituição da República Riograndense definia como “cidadãos” apenas os homens livres.


A mídia sempre fala dos ideais de bravura, valentia e coragem dos farroupilhas. E do Massacre de Porongos, onde milhares de negros foram dizimados numa clara demonstração de “limpeza” étnica, por que ninguém fala?
Muita gente não gosta de ler um texto desses, ainda mais em 20 de setembro. Por isso, fico por aqui. Ah, apenas para encerrar: não aconteceu nenhum movimento importante no dia 20 de setembro para que ele fosse firmado como “o precursor da liberdade”. Mas sabe como é...

“Foi o 21 de setembro, o precursor da liberdade”, não se encaixa bem no Hino.

9 comentários:

  1. Ai Johnny, não quebra a magia...=(
    Às vezes é bom sustentar um mito que mobiliza a sociedade e que faça com que ela atue literalmente em conjunto pra uma coisa boa...
    Se não exaltarem em datas comemorativos, quando vão exaltar?

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  2. O que eu questiono Eli, é a distorção histórica que se faz em cima do tema...
    Falamos de heróis, e esquecemos dos negros, dos índios... É complicado.

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  3. Johnny... me explica quem é o cara que tá falando com o Perimetral na charge... =/ Meia bitolada eu. Não sei quem é. =P

    Johnny estragou o 20 de Setembro. =P
    Feio.

    Hahahaha... tô brincando.
    Achei muito bom a tua visão do 20 de setembro, que não foi 20, foi 21.

    A mídia... sempre a culpada de tudo.
    O ser humano é meeeeesmo um patife, conforma-se com tudo (eu sei que já disse essa frase em posts anteriores...), com tudo o que vê na televisão.. na mídia em geral. "Engole" tudo o lhe é oferecido. Não digere e muito menos vomita, não aceitando as verdades alheias. (Que nojo essa minha descrição, nossa!)

    ...

    É...
    Um minuto de silêncio aos índios e negros, os verdadeiros heróis da Revolução Farroupilha.

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  4. "Se não exaltarem em datas comemorativos, quando vão exaltar?"

    No sete de setembro que não, né Johnny!?

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  5. "Revolução" com aspas, por favor, hehe...

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  6. Os dois caras que conversam na charge são dois soldados comuns, povão mesmo... Não são um personagem histórico específico....
    Sacou? Hein? Hein? Hein?

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  9. A tua visão sobre a "Revolução" Farroupilha é bem bacana, porém, eu ainda continuo achando legal o fato da República Rio Grandense tentar fazer algo, mesmo que da maneira errada. Eles tinham um objetivo e lutaram (de novo, de maneira errada) por ele. Os outros estados aceitaram tudo como foi imposto, sem reclamar nem nada...

    E que o povo gaúcho é digno de respeito, isso é. :)

    Rodrigo (comentando pela 3ª vez, já que o blogger gosta de dar problemas aqui em casa!)

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