23 de out. de 2008

Jornais, microfones e parasitas

A imprensa é uma espécie de parasita. Está sempre à espera de um feito com características que possam alavancar sua audiência para então explora-lo ao extremo, em todos os seus ângulos, até quando a população não demonstrar mais interesse pelo assunto. A partir daí, vai-se em busca de algum outro fato, e o ciclo se repete.
Foi assim com o caso da menina Isabela, aquela jogada do sexto andar, está sendo agora com o caso da garota Eloá, morta pelo ex-namorado em um seqüestro que durou diversos dias e teve ares de Big Brother.
É incrível a capacidade que certos veículos tem em usar a dor alheia para buscar alguns pontos de audiência ou vender alguns jornais a mais. Desde que o namorado de Eloá invadiu a casa, até o trágico desfecho, foram dezenas de horas com centenas de repórteres acampados em frente ao edifício, mostrando a situação de todos os ângulos, explorando a dor de familiares, vizinhos, amigos, expondo as fotos da garota no orkut, enfim.
Seguramente, se a imprensa não tivesse explorado a situação da maneira que explorou, o desfecho poderia ter sido diferente. Mas se está dando audiência, então vamos continuar explorando. E o resto, já sabemos como foi acabar.
Com a pobre da menina Isabela, então, nem se fala. Eu chegava a sentir náuseas toda vez que a imprensa falava sobre a pobre da garota. Hoje, fala-se ainda? Não. Hoje, o Caso Isabela não é mais pop.
Quantos crimes não acontecem TODOS OS DIAS nas cidades brasileiras e não passam de uma mera nota de jornal? Quantas barbáries são executadas nas favelas deste país, e todas acontecem no anonimato? Difícil calcular. O fato é que por cerca de dez dias ainda ouviremos falar muito na pobre Eloá. Depois, bem, aí é só esperar um novo hospedeiro para o parasita.

8 comentários:

  1. o sequestro começou na segunda, né?
    sabe quando eu fique sabendo?
    na QUINTA, quando cheguei em GDI pq não tive aula na sexta. caso contrário, iria saber quando a guria já tivesse morrido mesmo.
    então, o que dá pra concluir é que o Correio do Povo, meu único meio de ligação com o mundo, não tava fazendo tanto alarde quanto a ZERO HORA deve ter feito. ou eu fui muito salame e não vi mesmo...

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  2. Isso vai virar um filme daqui dois anos. Idem ao Onibus 174, que foi indicado pelo Ministério da Cultura ao Oscar.

    Ah, para os pessimistas ai...Rádio Garibaldi 7 x 6 BlackBurns...
    Will Diretaço MODE ON...
    huahuahuahuahua
    valeu Cami!!

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  3. É verdade, foi só a Cami torcer contra que ganhamos o jogo!

    Valeu Cami! Continue assim! hehe

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  4. POis é Elisa, os jornais não fizeram tanto alarde porque o jornal não é um veículo de comunicação onde a informação pode ser dada em tempo real (cadeira de Introdução à Comunicação Social MODE ON). Porque vai que eles publicam a manchete "Seqüestro em Santo André continua" e durante a madrugada acontece a libertação da refém?
    Mesmo assim, o Correio trouxe algumas chamdas na sua capa sim, claro que não como a manchete principal, mas houveram as chamdas.

    Neste acaso, a mídia em questão são os rádiso, a internet e obviamnte, o principal, o TUBO DE IMAGEM.

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  5. O comentário acima tá cheio de erros de digitação, mas me dêem um desconto vai, são 23 horas de um sábado chuvoso...

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  6. Pouco tempo depois de ter lido este texto da Ligia, sem querer, abri o teu blog e me dei de cara com o teu post, e vejo que de 1980 (data da publicação do livro) a 2008 há muitas (muitas) permanências. O que muda (e se muda) é a denúncia.

    O repórter do jornal falado da tevê - um moço bonito e bem-vestido - fez hoje denúncias terríveis, o Brasil é o país, suponho, onde se faz mais denúncias, somos extraordinariamente bem-informados através de todos os meios de comunicação. Mas as denúncias feitas nesta noite me perturbaram demais. Guardei apenas dois números que me marcaram como se marca o gado: 15.000.000 (quinze milhões) de árvores são abatidas por ano na floresta amazônica. E 500.000 (quinhentas mil) crianças morrem por ano no Brasil só de tuberculose, excluídas outras doenças. O país das denúncias. Nunca acontece nada depois mas ao menos a gente fica sabendo, o que já é alguma coisa. O locutor esboça um sorriso após o noticiário tenebroso e nos deseja uma boa noite.
    Ligia Fagundes Telles - A disciplina do amor

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  7. Fantástico Dani! Um texto de 1980 que se encaixa perfeitamente, em todos os seus aspectos, aos dias atuais.
    As pessoas mudam (um pouco), os fatos nem tanto, mas o Boa Noite fica.

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